quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Autismo: novos caminhos para a aprendizagem

Autismo: novos caminhos para a aprendizagem

O autismo é definido como um transtorno invasivo do desenvolvimento, que se manifesta antes dos três anos
de idade e afeta a evolução do individuo, causando alterações e anomalias. 
Vários genes e mutações já foram identificados como relacionados ao transtorno, mas acredita-se também que causas ambientais estejam relacionadas, principalmente as ligadas à vida intrauterina. Além das causas genéticas, são objetos de estudos fatores como a fenilcetonúria não tratada; viroses nos três primeiros meses de gestação; rubéola; toxoplasmose; anoxia e traumatismos no parto.

Atualmente a palavra autismo está associada a diversas síndromes, sendo considerada um “Espectro de Trantornos”. Apesar da variedade de sintomas, o autismo caracteriza-se pela tríade, ou seja, comprometimento em três áreas importantes no desenvolvimento humano: a comunicação, a imaginação e a socialização.

Na comunicação há desvios significativos na linguagem verbal e não-verbal, com dificuldade na expressão facial, linguagem corporal, ritmo e entonação. Por isso, dentro deste espectro vamos encontrar crianças sem linguagem verbal e não-verbal e outras com linguagem repetitiva e não comunicativa. Em autistas com a inteligência preservada é comum a ecolalia, ou seja, repetição e imitação, uma reprodução do diálogo do outro. No entanto, estas repetições são desprovidas de significado, e aparecem em contextos inadequados, e soam de forma estranha e algumas vezes pedante.

Quanto à imaginação, caracteriza-se pela rigidez e inflexibilidade. Existe déficit nos jogos de faz-de-conta e na utilização de mímica, muito observadas nas brincadeiras de crianças. Podem apresentar fixação por assuntos ou temas restritos, geralmente de pouco interesse para os seus pares. Além disso, percebe-se nas brincadeiras maior exploração de objetos e brinquedos, bem como fascínio por objetos peculiares como rodas, espelhos e outros, e por isso permanecem por longos períodos explorando formas, texturas ou simplesmente girando estes objetos, mas as brincadeiras são desprovidas de criatividade.

Embora apresentem um comportamento ritualista, perturbam-se facilmente com mudança de rotinas, como por exemplo, mudança de casa, móveis, lugares e outras.

O comprometimento na área social deve-se a dificuldade na relação com o outro, bem como compartilhar sentimentos, emoções e gostos. Por isso, é comum o autista ser visto como “feliz em seu mundo”. Outra característica bastante comum no autismo é a relação instrumental com o outro, ou seja, ele utiliza-se das pessoas como ferramenta para alcançar o que deseja, como por exemplo, pega a pessoa pela mão e a leva para pegar um objeto, ao invés de tentar pegá-lo. 
A partir da tríade acima citada, sabe-se que há prejuízo significativo no aprendizado da criança autista, pois além da dificuldade de socialização, ela não consegue colocar-se no lugar do outro e compreender os fatos a partir de uma nova perspectiva. Há também a falta ou diminuição da capacidade de imitar, que é um dos pré-requisitos para o aprendizado, e embora não se possa dizer que esta característica se aplique a todos os autistas, está presente na maioria dos casos.
É importante que pais, educadores e especialistas conheçam as dificuldades enfrentadas por estas crianças em ambientes educacionais, e possam desenvolver programas alternativos e estratégias de intervenção, pois além do aspecto comportamental, é necessário considerar as dificuldades específicas na aprendizagem, que inclui dificuldades organizacionais, desatenção, problemas em sequenciar, falta de habilidade em generalizar, dentre outras. Além disso, é preciso desenvolver rotinas de estudos sistemáticas e bem estruturadas, a fim de minimizar as dificuldades organizacionais, pois é necessário que a criança aprenda a planejar suas atividades. Para isto, é importante instruções visuais que forneçam pistas, com listas de programação e verificação, para que a mesma possa avaliar concretamente o que fez, o que precisa ser feito e a melhor estratégia para prosseguir.

Existem trabalhos bastante eficientes para auxiliar a aprendizagem do autista, e o TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children – Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Desvantagens na Comunicação), desenvolvido pela Universidade da Carolina do Norte, é um dos modelos educacionais que têm como filosofia propiciar o desenvolvimento adequado e compatível com as potencialidades e a faixa etária de cada indivíduo. Neste modelo é estabelecido um plano de trabalho individual, onde o aprendizado parte de objetos concretos e passa gradativamente para modelos representacionais e simbólicos, de acordo com a evolução do indivíduo.

Vale ressaltar a importância de programas educacionais efetivos, para que a criança possa alcançar a autonomia necessária e possa caminhar de forma equilibrada e independente.
 Celeste Chicarelli – celestechicarelli@hotmail.com
Pedagoga graduada pela UEMG 
Especialista em Psicopedagogia / Neuroeducação / Neuropsicologia
Método TEACCH
Screener da Síndrome de Irlen

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