FORMAÇÃO
E ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO INDIVIDUAL DE DESENVOLVIMENTO E
DESEMPENHO DAS CRIANÇAS DA UMEI CASTELO.
Esta
formação e roteiro objetiva auxiliar a elaboração do relatório semestral
individual das crianças. O professor deverá usá-lo apenas como guia,
completando-o se necessário. O texto deverá ser feito de forma livre podendo ser dividido em tópicos.
Em
relação à Avaliação na Educação Infantil cabe ressaltar que esse assunto é
tratado por autores brasileiros e estrangeiros por linhas teóricas diferentes.
Diante dessa premissa vamos nos embasar na Lei de Diretrizes e bases da
Educação Nacional, nos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil
e nas Proposições Curriculares para a Educação Infantil.
Os itens a serem
observados nos relatórios foram definidos pelas áreas do conhecimento: A Proposição
Curricular estabelece para o trabalho na Educação Infantil sete linguagens, que
representam aqui as múltiplas linguagens que as crianças utilizam
articuladamente: Artes plásticas visuais, Linguagem corporal, Linguagem
digital, Linguagem escrita, Linguagem musical, Linguagem matemática, Linguagem
oral.
Lembramos que as capacidades apontadas para
serem desenvolvidas por meio das linguagens (conforme estamos estudando) estão
abertas ao enriquecimento, à investigação, à pesquisa, ao estudo, à
complementação, ao aprofundamento, processos que devem orientar toda a prática
pedagógica dos profissionais envolvidos na Educação Infantil.
No primeiro semestre trataremos,além da história do grupo como já foi escrito no diário, da adaptação das crianças ao espaço, professoras, colegas de sala e funcionários da escola, como foi construído esse vínculo, quais as estratégias usadas para a conquista desta crescente confiança,inclusive das famílias.
Destacar o Projeto Institucional do ano vigente explicitando quais aspectos já estão sendo trabalhados, o envolvimento das crianças e os projetos que especificamente estão sendo mais detalhados em sua classe. Como registro da identidade das crianças e da turma, como o nome da turma, por exemplo.
No primeiro semestre trataremos,além da história do grupo como já foi escrito no diário, da adaptação das crianças ao espaço, professoras, colegas de sala e funcionários da escola, como foi construído esse vínculo, quais as estratégias usadas para a conquista desta crescente confiança,inclusive das famílias.
Destacar o Projeto Institucional do ano vigente explicitando quais aspectos já estão sendo trabalhados, o envolvimento das crianças e os projetos que especificamente estão sendo mais detalhados em sua classe. Como registro da identidade das crianças e da turma, como o nome da turma, por exemplo.
Sobre a construção dos relatórios:
Realizar, inicialmente, uma leitura de
todo o conteúdo e do roteiro que orienta a sua elaboração.
Usar a folha padrão para relatórios que
se encontram na área pública, caso não consiga , estamos a disposição para ajudá-las.
Escrever (sem abreviar) o nome completo da
criança.
Não se esqueça de assinar e datar os
relatórios.
A questão da
linguagem nos relatórios de avaliação torna-se fundamental, uma vez que ela é o
ponto de partida das relações humanas e sociais, e é por ela que o indivíduo se
constrói, reproduz modelos socialmente já pré - estabelecidos e também os
transforma. (Bakhtin/Volochinov, 1929). Desse modo, a linguagem ocupa um papel
fundamental tanto na construção desse relatório quanto na negociação discursiva
de como esse deve ser elaborado; a quem se destina (aos pais dos alunos,
professor da série seguinte).
No
relatório de avaliação, a linguagem argumentativa organiza-se pelos seus
aspectos dialógicos, pois, ao escrever um relatório, recuperam-se diferentes
vozes que compõem o discurso escolar para dar um sentido argumentativo aos
dados apresentados.
O
relatório caracteriza-se pela multiplicidade de vozes sociais, culturais e
ideológicas representadas, que ecoam na produção do instrumento relatório e nas
concepções de ensino-aprendizagem, materializadas nesse instrumento pela
linguagem.
A argumentação nos relatórios propicia ou organiza a compreensão dos
processos de ensino-aprendizagem das crianças, como a mediação entre
professor-aluno, aluno-aluno, as intervenções pedagógicas e a atuação na ZDP.
Ademais, comunica aos pais e/ou professores da série seguinte a
aprendizagem-desenvolvimento da criança na escola. Para isso, o professor
precisaria compreender os pressupostos da argumentação, enquanto defesa de suas
idéias e na construção de relatórios.
Em
busca de uma definição sobre a argumentação, Carraher (1983) a define como um
conjunto de afirmação que inclui, pelo menos, uma conclusão. Quando uma pessoa
apresenta e defende suas idéias diante de outras pessoas, ela realiza a
argumentação.
Para Koch (1984), a interação
social ocorre por meio da linguagem e se caracteriza pela argumentatividade. O
ser humano, por intermédio do discurso, avalia, julga, critica e forma juízos
de valor. O ato de convencer e persuadir é uma das características da argumentação.
VEREMOS UM EXEMPLO DE UM TRECHO DE RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
O relatório de avaliação
apresenta alguns critérios observados nos alunos de 4 anos de idade (quadro 1).
Eles foram definidos a partir das áreas do conhecimento propostas pelos RCNEIs:
Linguagem oral e escrita, Matemática, Natureza e Sociedade, Artes Visuais,
Música, Movimento.
Além dessas áreas, foram
utilizados alguns itens que norteiam o professor em relação à avaliação dos
alunos, perante seus registros e observações durante as aulas.
O quadro 1 exemplifica um dos critérios de avaliação utilizado no
relatório, dentre as áreas de conhecimento,
já mencionadas, o quadro 2 mostra a análise de uma seqüência argumentativa
e o quadro 3 indica orientaçõesaos pais dos alunos.
Matemática
B) Noção
espaço-temporal (ontem, hoje, amanhã, aqui, lá).
Quadro
1: Exemplo de critério do relatório
de avaliação
A
seguir, apresento a análise de uma seqüência argumentativa a partir do critério
já mencionado, para avaliar o aluno (quadro 2).
O
Vitor apresenta dificuldades para estabelecer a noção-temporal (PREMISSA). Por
exemplo, ele diz que faltou “hoje” por que estava doente, em vez de dizer
“ontem” (ARGUMENTO). Sobre essa questão, temos realizado atividades, como o
quadro de rotina com os dias da semana, calendário do mês, para que o Vitor e
seus colegas percebam as noções de tempo (CONCLUSÃO COM SOLUÇÃO).
Quadro 2: Seqüência
argumentativa
O relato de avaliação parte de
uma constataçãode partida ou premissa “O Vitor apresenta dificuldades para
estabelecer a noção-temporal”. A partir dessa tese inicial, são
apresentados argumentos, através de exemplos do cotidiano da sala de aula para
reforçar a tese inicial: “Por exemplo, ele diz que faltou “hoje” por que
estava doente, em vez de dizer “ontem””.
O
marcador “sobre essa questão” indica uma forma de
recuperar o argumento anterior para propor uma conclusão com solução, que
seriam nesse caso, as intervenções pedagógicas: “Sobre essa questão, temos
realizado atividades, como o quadro de rotina com os dias da semana, calendário
do mês”.
O
uso do “como” introduz as situações em que há atividades
relacionadas com a noção-temporal. A apresentação desses exemplos tem como
objetivo proporcionar a compreensão do leitor sobre o cotidiano da sala de aula
e as situações concretas de ensino-aprendizagem.
Para
concluir a seqüência, usa-se o operador “para que”, com a
função de explicar e sustentar o enunciado anterior. A conclusão refere-se a “Vitor
e seus colegas”, indicando que essa dificuldade não é só
dele, mas de outros também. O fato
de citar “os colegas” e o emprego do verbo “percebam” na 3ª
pessoa do plural reforça a idéia de convencimento, pois significa que há outros
alunos com a mesma dificuldade. Isso também mostra aos familiares que essa
dificuldade não é exclusiva de uma determinada criança.
Em relação ao processo de ensino-aprendizagem, esse relatório
mostra que a professora procura criar instrumentos como o quadro de rotina
com os dias da semana, calendário do mês, para que o aluno aprenda a
noção-temporal ainda não interiorizada. Também revela que essa não é uma
dificuldade individual, partindo para uma observação geral da classe.
Para argumentar, é necessário que o professor apresente
pontos de partida pertinentes à aprendizagem, estabelecendo relações com
exemplos do cotidiano ocorridos em sala de aula. Quem argumenta tem sempre a
intenção de convencer seus destinatários e validar a avaliação faz. Nesse
sentido, verifica-se que a argumentação permeia todo o relatório.
No quadro 3, o relatório aparece como instrumento de comunicação entre a
escola e os familiares.
1) Linguagem Oral e Escrita
C) Interpretação de histórias, textos, figuras, envolvendo a
“leitura de mundo”. (CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO)
Tanto na roda da história como no manuseio de livros, a
Daniela costuma nomear as figuras, apontando - as e dizendo, por exemplo, esse
é o cachorro, esse é o gato, etc, sem interpretar os acontecimentos da história
(ARGUMENTOS).
Temos realizado atividades como “leitura de histórias” em
grupo, um colega conta história para o outro, procuro realizar também a leitura
da história junto com a Daniela, ajudando-a “interpretar” as figuras, e
perguntando: “o quê aconteceu nessa parte? E depois? Por quê?”. A família
também pode contribuir para essa questão, contando histórias para a Daniela ou
até pedindo para ela falar, explicar, as atividades realizadas na escola
(CONCLUSÃO COM SOLUÇÃO).
Quadro 3:
Avaliação e orientação aos pais dos alunos
O marcador também sugere que o trabalho
realizado na sala de aula não é exclusividade da escola, podendo ser
compartilhado com a família da criança.
Ao sugerir essas orientações, a
professora pôde ter considerado o contexto da criança como o fato de os
familiares serem alfabetizados, o interesse na educação escolar da aluna e a participação
nas reuniões. O emprego do pode contribuir funciona como
modalizador da sentença, para que os familiares não se sintam intimidados com a
orientação.
O relatório de avaliação ocupa o papel de mediar a relação
entre família-escola, pois os familiares podem não só compreender, mas
questionar a avaliação realizada sobre a criança.
Considerações
finais
Na
linguagem do relatório de avaliação, utilizam-se recursos lingüísticos com a
função de persuadir seus destinatários (pais dos alunos, professor da série
seguinte) e convencê-los do processo de aprendizagem em andamento.
Para
argumentar, é necessário que o professor apresente ponto de partida pertinente
à aprendizagem, exemplos do cotidiano ocorridos em sala de aula com a intenção
de convencer seus destinatários e validar a avaliação que se faz sobre o aluno.
Sobre
a produção do relatório, a argumentação abre possibilidade para que o professor
possa refletir sobre sua prática e reconhecer o processo de aprendizagem de
seus alunos. Esse instrumento funciona como elemento a favor de quem aprende,
de quem ensina e como um elo comunicativo entre a escola e a família dos
alunos.
Nesse
caso, a linguagem do relatório precisa estar acessível ao entendimento dos pais
dos alunos, em um ambiente educacional propício, para que eles possam não só
compreendê-la, mas fazer suas considerações sobre ela e, assim, tornar-se
co-enunciadores do processo avaliativo.
O
educador brasileiro Freire (1987) explica que a educação não é neutra, uma vez
que tem um caráter político e ideológico que marca sua prática. Dessa
forma, os instrumentos de avaliação são atividades intencionais e educativas,
que estão entrelaçadas às concepções de ensino-aprendizagem do educador. Assim,
exigem uma postura profissional crítica em avaliação, pois ao avaliar o aluno,
o professor também avalia seu trabalho.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
BAKHTIN,
M/ Volochinov. Marxismo e filosofia da linguagem. (Trad. Michel Lahud e
Yara Frateschi Vieira). 8.ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
BRAIT,
B.; MELO, R. Enunciado/ enunciado concreto/ enunciação. In: BRAIT, B.
(org.). Bakthin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
BRASIL.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n° 9.394/96, de 20
de dezembro de 1996.
_______.
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Secretaria da
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Para
a construção dos relatórios é de extrema importância a sua análise e observação freqüente sobre os seus alunos
e fazer esse registro periodicamente (numa espécie de caderno de registros).
Lembrando que sempre que preciso estaremos a disposição para atendê-las nas dúvidas.
ROTEIRO
PARA A ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DO I SEMESTRE.
História
do grupo:
Número
de crianças, faixa-etária do grupo ( vale
colocar algumas das principais características da idade), vínculo com a
educadora e o grupo. Projeto proposto para o trabalho no ano em linhas gerais.
Adaptação
da criança: características pessoais
(dar ênfase a este item tomando cuidado para não rotular. EX: é manhosa, é
tímida, é brigão ...não se esqueçam, é melhor dizer que a criança, mostra-se...
ou demonstra...).
Como
foi planejado esse período e como transcorreu: a chegada das crianças,
expectativas levantadas, separação dos pais, estabelecimento dos vínculos
criança/professora, criança/grupo e espaço da escola.
A
criança e o seu jeito de ser:
temperamento, como faz para conseguir o que deseja, reação à frustração,
desconfortos e emoções.
Interação/
participação nas brincadeiras e nas atividades:
A
criança gosta do contato corporal?
Como
são os contatos, as disputas e as defesas com os colegas; preferências.
Contato
com outros adultos, outras crianças e outros espaços da UMEI.
Atividades
e brincadeiras que prefere e as que menos gosta.
Como
é sua participação nas brincadeiras? E nas atividades pedagógicas?
Saúde:
Como
foi sua saúde durante o semestre? Apresentou alguma doença que a impediu de
frequentar a UMEI? Qual? Quanto tempo?
Alimentação:
O
que come, preferências, se não come, o que é feito na escola para estimular.
Para
o integral, acrescentar:
Berçário:
Acrescentar
sobre a mamadeira, o sono, banho, banho de sol, papinha e suco.
0
a 1 ano:
Alimenta-se
sozinho? Precisa de ajuda em quais momentos?
(
Penso que todos ainda precisam de ajuda mesmo que seja para complementar as
colheradas que conseguem comer sozinhos, vale registrar esse cuidado).
Para
berçário e 0 a 1.
Formação
da identidade:
Já
reconhece o próprio nome quando chamado?
Reconhece
o nome dos colegas e das professoras e adultos da sala?
Nomeia
algum?
Identifica
partes do corpo? Quais? Sabe dizer estas partes ou só aponta?
Quais
os meios que usa para se expressar?
Gosta
de imitar quais sons? Quais gestos?
Usa
quais sons com significados? Fala quais palavras? forma frases?
Entende
o não? Entende e atende aos pedidos?
Gosta
de música e imagens DVD, como reage a elas?
Como
reage ao material de artes ( tinta quando passada nas mãos e nos pés)?
Demonstra
curiosidade perante aos objetos e ambiente ?
Participação
da família:
Interesse
da família pelo trabalho psicopedagógico desenvolvido, atendimento às
solicitações, organização e cuidado com objetos de uso pessoal da criança.
A Rotina na Educação Infantil: “âncora” do cotidiano
Por Maria Alice de Rezende Proença, mestre em Didática pela FEUSP, historiadora, coordenadora da Escola Lourenço Castanho/SP e supervisora de estágio do Curso de Especialização em Educação Infantil da FEUSP.
É fundamental em qualquer trabalho pedagógico que seja explicitada qual a concepção que se tem como norteadora da proposta desenvolvida, além da clareza do porquê e para que uma criança pequena vai à escola. Há vários objetivos que permeiam o trabalho de Educação Infantil na articulação entre o cuidar e o educar, em especial a construção da sociabilidade, da aprendizagem e da independência em prol de sua autonomia, além dos cuidados necessários à sua higiene, alimentação, segurança, brincadeiras e vínculo afetivo.
A criança, enquanto sujeito social, necessita fazer parte de grupos sociais, diferenciados da sua família para se munir de instrumentos para o convívio em sociedade ao interagir com seus pares, crianças da mesma idade, e com os diferentes, como professores e demais funcionários da instituição, construindo subsídios para atuar em situações coletivas de vida em grupo, diferentemente dos papéis que já exerce em seu núcleo familiar. Na escola, tem a oportunidade de aprender a brincar com crianças da sua idade, exercitar a capacidade de imaginar, de criar e dar vazão à fantasia pois, enquanto ser simbólico, vivencia o mundo mágico do faz-de-conta e, brincando, internaliza e expressa práticas culturais que observou no mundo real que a cerca. A imitação do outro é a forma através da qual ela aprende, ao conhecer e se apropriar inicialmente do próprio corpo e, mais tarde, do mundo das idéias. Enquanto sujeito psicológico, tem a oportunidade de tornar-se cada vez mais independente, segura, capaz de tomar iniciativas pertinentes à sua idade e construir, gradativamente, a sua autonomia. No grupo, aprende a escolher, a selecionar e eleger prioridades, a julgar, expor o seu ponto de vista, a posicionar-se de acordo com suas preferências. Aprende a lidar com frustrações e limites, fortalecendo o aprendizado da auto-estima e de respeito a si mesma e ao outro, que também tem desejos, com igualdade de direitos e deveres.
A criança, enquanto sujeito cognitivo, toma contacto de forma organizada e prazerosa com a cultura da qual faz parte, tanto como produtora, quanto como usuária, apropriando-se do patrimônio acumulado pela humanidade. Nesse espaço de educação, ela pode conhecer, construir e apropriar-se de conhecimentos necessários para a sua ação na sociedade, significando-os conforme suas experiências anteriores, aprendendo a aprender.
Como é um ser pensante, desejante, curioso e, espontaneamente, questionador, vivenciará na escola desafios planejados pelo professor que lhe possibilitarão o exercício de habilidades mentais, como observar, comparar, verbalizar hipóteses, elaborar pequenas conclusões, expressar descobertas e conhecimentos construídos anteriormente ao seu ingresso na escola. Aprende a expor seu pensamento, a escutar, a confrontar o outro, a lidar com o que não sabe ou o que sabe de um jeito diferente, atribuindo sentido ao conhecimento que constrói baseada na emoção que media essa relação.
Ao trabalhar com crianças da Educação Infantil, é preciso considerá-la enquanto ser afetivo, com necessidades físicas e emocionais de fortalecimento da auto-estima, de vínculos afetivos, de toques corporais, agrados, “colo” e muitas atenções para que se sinta “especial” e possa desenvolver sua personalidade em toda a sua plenitude. Em etapa de crescimento físico e de muita curiosidade, precisa movimentar-se com constância, agir e interagir, com tudo e com todos que a cercam, explorando percepções sensoriais e nutrindo seu imaginário, apropriando-se e significando as práticas culturais do contexto onde está inserida. A criança deve ser considerada pelo que ela é, pela identidade específica da faixa etária, com todos os direitos e a beleza de suas singularidades.
A partir dessa concepção de criança e em conjunto com as professoras do grupo de Educação Infantil que coordeno, foi organizada a rotina e o planejamento das atividades a serem desenvolvidas. No dicionário de Aurélio Buarque de Holanda afirma-se que a rotina refere-se aos caminhos já percorridos e conhecidos pelo sujeito que, em geral automaticamente, obedece aos horários, hábitos e procedimentos já adquiridos e incorporados, sendo necessária uma diferenciação entre dois tipos de rotina: a mecânica e a estruturante.
A partir dessa concepção de criança e em conjunto com as professoras do grupo de Educação Infantil que coordeno, foi organizada a rotina e o planejamento das atividades a serem desenvolvidas. No dicionário de Aurélio Buarque de Holanda afirma-se que a rotina refere-se aos caminhos já percorridos e conhecidos pelo sujeito que, em geral automaticamente, obedece aos horários, hábitos e procedimentos já adquiridos e incorporados, sendo necessária uma diferenciação entre dois tipos de rotina: a mecânica e a estruturante.
A rotina estruturante é como uma âncora do dia-a-dia, capaz de estruturar o cotidiano por representar para a criança e para os professores uma fonte de segurança e de previsão do que vai acontecer. Ela norteia, organiza e orienta o grupo no espaço escolar, diminuindo a ansiedade a respeito do que é imprevisível ou desconhecido e otimizando o tempo disponível do grupo. É um exercício disciplinar a construção da rotina do grupo, que envolve prioridades, opções, adequações às necessidades e dosagem das atividades. A associação da palavra âncora ao conceito de rotina pretende representar a base sobre a qual o professor se alicerça para poder prosseguir com o trabalho pedagógico.
A rotina pedagógica de uma sala de aula de Maternal deve seguir um ritual, que dê subsídios à criança para prever a seqüência de trabalho, como sentar-se na roda para cantar as músicas de “bom-dia” ou “boa-tarde”, nomear os colegas presentes, notar os ausentes, observar o tempo, escolher o “chefe do dia”, conversar sobre algum acontecimento na escola, ou fora dela, e elencar as atividades do dia, ilustradas com os cartazes da rotina feitos pelas crianças da classe (a rotina acontece, diariamente, em todas as classes de Educação Infantil, com a intenção de ser uma introdução, uma apresentação do trabalho a ser feito para situar o grupo, além de um momento de intimidade e acolhimento aos componentes do grupo). Baseado em sua prática pedagógica, cada professor pode refletir e planejar a rotina mais pertinente para o grupo.
Para Wallon, a escola tem responsabilidade e papel de destaque na formação do sujeito por ser um meio funcional de desenvolvimento, assim como a família (grupo primário), embora ocupem posições diferenciadas na constituição do indivíduo, cada um com o seu papel e lugar determinado no conjunto. “A criança deve freqüentar a escola para se instruir e para ficar familiarizada com um novo tipo de disciplina e de relações interpessoais, cabendo à escola maternal o papel de preparar a criança para sua emancipação futura ” (Almeida e Mahoney, 2000:79).
A rotina estruturante se diferencia da mecânica por estar estruturada de acordo com objetivos propostos no projeto pedagógico institucional, planejada em sintonia com o tempo disponível, as atividades propostas, o ritmo dos participantes e, em especial, alicerçada na concepção de criança. Envolve ação, flexibilidade, limites, pois contempla a subjetividade do grupo. A rotina estruturante permite que o educador se baseie no previsível para lidar com o inesperado, estruturando a intencionalidade da sua ação e exercitando o seu papel de mediador de situações pedagógica, que possibilitem o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
Referência Bibliográfica
Almeida, Laurinda Ramalho de e Mahoney, Abigail Alvarenga. Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo: Edições Loyola, 2000
Freire, Madalena et al. Rotina e Construção do Tempo na Relação Pedagógica. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1992 (Série Cadernos de Reflexão)
Proença, Maria Alice. O Registro Reflexivo na formação do educador. FEUSP,2003. Dissertação de Mestrado.
Wallon, Henri. O papel do outro na consciência do eu. São Paulo: Editora Ática, 1946
http://www.uni.edu/coe/special-programs/regents-center-early-developmental-education
ALGUNS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS OBJETIVOS.
MARIA DA PENHA APARECIDA KLUG BASILIO CARNEIRO
Parte da monografia apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Educação Infantil da Escola
Superior Aberta do Brasil como requisito
para obtenção do título de Especialista em
Educação Infantil, sob orientação da Prof.
Ms. Patrícia Ebani Peixoto
Conforme discorrido no capítulo anterior, a prática de avaliação na educação infantil,
prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 20 de
dezembro de 1996, orientada pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil e amplamente discutida por pesquisadores, aponta para a necessidade de se
estabelecer uma ação dialógica, reflexiva e vinculada aos objetivos da educação
infantil. Foi constatado que os diversos autores consultados partilham da tese de
que a avaliação presente em escolas de educação infantil deve se preocupar com
algumas questões centrais: com o tipo de cidadão que se pretende formar e com
que habilidades. A partir da preocupação com os sujeitos que a escola pretender
formar defini-se qual é o papel da avaliação e como realizá-la.
Os autores pesquisados apontam também que a avaliação envolve uma questão
polêmica, rodeada de questionamentos e embutida de aspectos sociais, políticos e
éticos, que têm relevância preponderante, inclusive, sobre a parte técnica quanto à
definição dos instrumentos de avaliação. Frente a esse panorama, as pesquisas e
os estudos analisados indicam a importância do rompimento com as práticas
classificatórias e de se adotar a cultura de avaliação com práticas cabíveis e
aplicáveis conforme as especificidades de cuidados e educação de crianças com
idade entre zero e cinco anos.
A escolha dos instrumentos e de seus objetivos é influenciada pelos aspectos
anteriormente citados. Por esse contexto, a avaliação na educação infantil tem
vários âmbitos que demandam um olhar multifacetado e diversas linguagens. Neste
capítulo abordaremos algumas formas de avaliação (ou alguns dos instrumentos)
indicados por documentos oficiais e por pesquisadores, adotados com maior e
menor intensidade nas escolas de educação infantil no Brasil.
Zabalza (2006) discute os tipos de avaliação em educação infantil, destacando que
todos têm virtudes e limitações, portanto, há a necessidade da escola escolher e definir o
instrumento mais adequado de acordo com os objetivos que se pretende alcançar.
Avaliar na educação infantil demanda uma série de instrumentos que colaboram
para que o educador verifique como a criança está em suas múltiplas formas de ser,
expressar e pensar, o que significa conhecer para auxiliar no desenvolvimento.
(BARBOSA, 2004).
Assim, Barbosa (2004) aponta:
Com instrumentos variados, utilizados em situações diversas, sempre
autênticas e de aprendizagem, podemos recolher as informações
necessárias para apreciar as capacidades das crianças, isto é,
acompanhar o que elas já conhecem, o que sabem fazer (trabalhar com
todos os domínios específicos, não priorizando as atividades lingüísticas),
as estratégias que usam para resolver problemas, suas formas de
expressão, seu desenvolvimento motor, as estratégias interessantes etc
(BARBOSA, 2004, p. 17).
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998)
existem várias maneiras de se realizar os registros decorrentes das observações dos
professores, sendo a escrita a mais comum e acessível e, dessa forma, a
importância dos registros aparece como elemento que compõe um rico material de
reflexão e ajuda para o planejamento educativo. Os principais instrumentos
apontados são a observação e o registro, através dos quais os educadores podem
fazer uma abordagem contextualizada dos processos de aprendizagem das
crianças, da qualidade das interações e acompanhar os processos de
desenvolvimento a partir das experiências das crianças. Essa abordagem dialógica e
reflexiva fornece ao professor e à equipe pedagógica uma visão integral das
crianças e também as particularidades. As formas de registros da observação
podem ser: escritas (relatórios, cadernos de registro do aluno, fichas); gravadas: em
áudio e vídeo; através das produções das crianças (desenhos, esculturas), ou ainda
com fotografias.
Iniciamos a exposição dos instrumentos indicados para a avaliação e seus objetivos
pela observação. Essa forma de captar e entender o universo das crianças consiste
em aprender a olhar e a escutar. Trata-se de olhar com hipóteses e com objetivos,
de forma sistemática, com um campo de observação delimitado no momento em que
as crianças estão em ação. Observa-se não só a atividade infantil, mas também fotografias, vídeos, produções infantis e toda manifestação das crianças (BARBOSA,
2004).
A avaliação através da observação das brincadeiras oferece aos educadores uma
rica fonte de informações acerca do desenvolvimento infantil, pois quando brincam
as crianças manifestam ações relativas à resolução de conflitos; experimentam
papeis e desenvolvem um conjunto de habilidades: pensamento crítico, conteúdo
significativo, formação cultural, conectar ideias, fazer escolhas, conviver com
pessoas diferentes, ter visão globalizada, enfim, é uma forma de desenvolver as
bases de sua personalidade.
Brincar assume um papel significativo para o desenvolvimento saudável, pois é
oportunidade para o resgate dos valores mais essenciais dos seres humanos; como
potencial na cura psíquica e física; como forma de comunicação entre iguais e entre
gerações; como instrumento de desenvolvimento e ponte para a aprendizagem;
como possibilidade de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos
socioeconômicos, conforme aponta Adriana Friedmann (2004).
Conforme Vygotsky (apud Horn, 2003) o ato de brincar proporciona um suporte
básico para as mudanças das necessidades e da consciência. A ação da criança no
âmbito da imaginação oportuniza a criação das intenções voluntárias e a formação
dos planos da vida real e das motivações da vontade. Brincar se constitui no mais
alto nível de desenvolvimento e, somente nessa dimensão a brincadeira pode ser
considerada uma atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança.
Kramer (2003) sugere um caderno de observações da turma, no qual os registros
são realizados pelo professor de forma livre, englobando os acontecimentos, as
mudanças, conquistas e interpretações, inclusive sobre as atitudes e sentimentos do
próprio professor. No dia a dia, o professor deve observar um grupo de crianças,
entre três e cinco e realizar anotações nos relatórios de avaliação individual, que
posteriormente deve ser discutido com a supervisora. Além destes, Kramer (2003)
indica a adoção de calendários mensais, que especificam as atividades e oficinas,
sendo que após a realização da atividade as crianças escrevem o nome ou
desenham um símbolo, para compor um quadro de preferências, aversões
dificuldades etc. Por fim, semestralmente, são respondidas as fichas de avaliação
do trabalho escolar pelos profissionais da equipe pedagógica da escola.
Quanto aos relatórios Barbosa (2004) aponta que são instrumentos utilizados pelos
professores para registrar as observações das crianças, as situações, as
experiências e os diversos aspectos do grupo, dos alunos individualmente e de seus
processos, tanto na aprendizagem quanto no âmbito relacional e de grupo. Destaca
a importância deste instrumento, por expressar a memória do trabalho realizado com
a turma e por que se constitui em um ponto de referência para o planejamento e a
avaliação do trabalho
As fichas de avaliação são muito presentes na prática de avaliação infantil e se
constituem em tabelas e/ou quadros com questões objetivas e pouco espaço para
relatos discursivos. São preenchidas, ao final de algum período, com anotações de
aspectos e características invariáveis sobre crianças em idades diferentes,
freqüentemente com termos imprecisos que enfatizam somente as atividades e
áreas do desenvolvimento das crianças que, muitas vezes, ainda não foram
instigadas pelo professor. Segundo Ciasca e Mendes (2009, p. 303), “[...] além de se
reduzir ao registro, freqüentemente, esse instrumento de avaliação surge isolado,
descontextualizado do cotidiano das crianças e do projeto pedagógico elaborado
pelo professor ou pela instituição.” Complementam ainda que: “Transforma-se,
assim, a avaliação em registros sem qualquer significado ou importância
pedagógica”. Embora as fichas de avaliação sejam criticadas pelo reducionismo e
objetividade, Kramer (2003) indica esse tipo de instrumento associado a outros, para
compor um quadro mais amplo de avaliação e não indica o seu uso isolado.
A respeito da análise das produções infantis, deve ser considerado que a
criatividade da criança precisa ser explorada através de diversas situações e
atividades, visto que “[...] em nenhum outro período da vida o ser humano se
desenvolve tanto quanto nos primeiros seis anos. Essa é a fase em que o cérebro
forma o maior número de sinapses, ou seja, as ligações que usamos para processar
as informações recebidas”. (ALENCAR, 2009, p. 31).
Especialmente acerca do desenho infantil, Longo (2005) aponta para a necessidade
de entendermos o desenho como uma linguagem, um sistema de signos
diretamente relacionado ao contexto cultural e, por isso, carregado de sentimentos e
juízos de valores, de acordo com a idade da criança. Através do ato de desenhar a
criança expressa palavras, conceitos, relações, gestos, acontecimentos que se
referem às suas vivências. A importância de desenhar está ligada a organização do
pensamento, das emoções e dos sentimentos. É através da expressão artística que
a criança expressa suas vivências e experiências e articula a atividade intelectual, a
sensibilidade e a habilidade manual. (ALENCAR, 2009).
Conforme Aroeira (1996), Longo (2005) e Greig (2004) desenhar é uma ação que
envolve o desenvolvimento emocional, intelectual, físico, perceptual e social. No
plano emocional, a arte é um espelho, o desenho de uma criança revela muitos
aspectos emocionais, sendo que “[...] a criança emocionalmente livre identifica-se
intimamente com sua obra e sente-se segura diante de qualquer problema que
derive de suas vivências” (AROEIRA, 1996, p. 52). O desenvolvimento intelectual se
manifesta através da consciência de mundo, ou seja, a partir da compreensão que
ela tem de si e de seu meio.
Diante disso, ao desenhar, a criança identifica-se com sua obra, reforça a
autoconfiança e a segurança por que o desenho é um registro, uma marca que para
ela tem muitos significados, sendo assim qualquer intervenção no desenho da
criança é uma agressão a sua criação. Por exemplo, quando um colega rabisca o
desenho dessa criança, ela manifesta com insatisfação a agressão que o seu
desenho sofreu, isto para ela é um ato de violência. Quando o adulto escreve na
folha do desenho ou corrige o desenho da criança, igualmente está praticando uma
agressão, inibindo a capacidade criativa da criança. Esse é o pressuposto da
corrente da escola contemporânea (anos 1980) de análise da produção infantil que
argumenta que não se deve descartar o processo interno de cada um e que defende
a associação entre subjetividade e cultura. (MARTIN, 2007). Logo, as observações e
a avaliação devem girar em torno do processo de elaboração das produções infantis
e dos significados que as crianças atribuem.
Os anedotários representam suportes de uso do professor, onde são
registrados/anotados as experiências e vivências de cada aluno, com registros das
expressões lingüísticas, as cenas descritas, o envolvimento em algum
projeto/atividade, ação com brinquedos, relacionamento entre amigos, com os
adultos etc. Pode ser complementado com registros fotográficos. (BARBOSA, 2004).
O livro da vida da turma é confeccionado pelas próprias crianças, com diferentes
linguagens, tendo como foco registrar aspectos significativos da vida em grupo. Nele
são impressas as experiências vividas, as aprendizagens realizadas, os problemas
solucionados, os dramas vivenciados, enfim, é uma memória coletiva do convívio
social, conforme Barbosa (2004).
Outro instrumento de avaliação muito indicado por diversos profissionais e
pesquisadores é o portfólio, que documenta o processo de aprendizagem do
educando e, portanto, uma forma de diálogo entre professor e aluno (BEHRENS
apud RAIZER, 2009).
Segundo Parente (2004) os portfolios não são apenas para captar e documentar a
evolução da competência da criança, mas devem providenciar informações
significativas sobre as experiências de aprendizagem da criança realizadas ao longo
do tempo. Quanto ao tipo de portfólio, a autora supracitada referencia o trabalho de
Rolheiser, Bower e Stevahn (2000) que aconselham aos professores a fazer a
seleção entre duas categorias que consideram principais: o portfolio de crescimento
e o portfolio dos melhores trabalhos.
O portfolio de crescimento é desenhado com o objectivo de demonstrar o
crescimento e desenvolvimento individual ao longo do tempo. O foco no
crescimento e desenvolvimento acarreta uma ligação estreita às metas e
objectivos educacionais identificados para cada criança. Este tipo de
portfolio pode conter evidências que revelam os esforços, os insucessos,
os sucessos e as diversas mudanças ocorridas ao longo do tempo. O
objectivo é que os alunos possam ver as suas próprias mudanças,
realizadas ao longo do tempo, e possam partilhar a sua viagem no
desenvolvimento e na aprendizagem com os outros. O portfolio de
crescimento pode constituir a matéria prima para construir o portfolio dos
melhores trabalhos. O portfolio dos melhores trabalhos sublinha e mostra
evidências do “melhor” que foi realizado pelo aluno. Este tipo de portfolio
acentua a dimensão do reconhecimento do próprio valor e do sentido de
realização e pode favorecer o desejo de partilhar o seu trabalho com os
outros. Torna possível revelar da quantidade de esforços que os alunos
investem nos seus trabalhos e realizações (PARENTE, 2004, p. 59).
Conforme Valiati e Cairuga (2004), no portfólio, a seleção dos trabalhos tem por
base a escolha das crianças, com suas opiniões e expressões. As crianças
envolvem-se no processo de avaliação, tornam-se protagonistas e conscientes de
seus avanços, interesses e aprendizagens. Dessa forma, Raizer (2009) considera
que o portfólio só tem real sentido quando traduz o desejo dos envolvidos no
processo ensino-aprendizagem, quando expressam avanços, mudanças conceituais
e novas formas de pensar e, quando os educadores realizam uma leitura atenta dos
dados, observado os objetivos e a flexibilidade do planejamento.
A partir de uma breve abordagem foram apresentados alguns instrumentos de
avaliação infantil, considerando que, além destes, outros são citados pela literatura
pertinente, porém para atender aos limites deste trabalho não foi possível descrevê-
los. Conforme as orientações dos pesquisadores consultados, os diversos
instrumentos de avaliação devem ser articulados, de modo a considerar que o
processo educacional, e, especialmente, que a aprendizagem ocorre de forma
global. Assim, Zabalza (2006, p. 8) destaca que é importante “[...] saber de qual
situação partimos e ir verificando se o desenvolvimento de nossos alunos está
ocorrendo segundo a dinâmica esperada para a sua idade e o tipo de enfoque
educativo que planejamos”. Ao docente cabe observar se as crianças estão
evoluindo em um bom ritmo, se essa evolução ocorre de maneira suficientemente
equilibrada e se elas estão superando as dificuldades que inevitavelmente vão
apresentando-se. Para tanto, é fundamental a articulação dos instrumentos
avaliativos com a devida valorização de todos os aspectos do desenvolvimento da
criança.
Coordenação Pedagógica 2014.
O que nós entendemos por “ambiente sociomoral”?
Rheta DeVries/ Betty Zan
Tradução: Ana Angélica Júlio.
Nos referimos ao ambiente sociomoral
como uma completa rede de relações interpessoais numa sala de aula. Isto
inclui o relacionamento das crianças com o professor, com outras
crianças, com outros professores e com as regras. Em nosso livro mais
recente, Moral Classrooms, Moral Children (De Vries & Zan, 1994),
nós descrevemos a proposta construtivista da educação moral e social,
exemplificado no relato do segundo professor.
Educação construtivista é uma proposta
desenvolvimentista apropriada para educação infantil inspirada na teoria
de Piaget segundo a qual a criança constrói seu conhecimento,
inteligência, personalidade, valores morais e sociais. Esta proposta tem
sido definida em termos de atividades que apelam para o interesse das
crianças, encorajando-as em direção a experimentos no mundo físico, e
promovendo uma perspectiva de cooperação no mundo social (De Vries &
Kohlberg, 1987/1990). Portanto, educação construtivista não é apenas
uma seqüência ou um conjunto de atividades. A educação construtivista em
seu aspecto essencial é mais do que atividades, materiais e organização
de classes.
O primeiro princípio de educação
construtivista é que um ambiente sociomoral deve ser cultivado no qual o
respeito pelo outro é continuamente praticado. Neste sentido, a
educação construtivista é uma proposta tanto moral como intelectual.
Algumas pessoas sentem que a escola não deveria se envolver com a
educação moral, mas, deveria focalizar-se somente no ensino acadêmico ou
promover o desenvolvimento intelectual.
O problema com este ponto de vista é que as escolas “tratam” com o desenvolvimento moral, querendo ou não.
Professores não podem evitar “mensagens
de comunicação moral”, como eles lutam com as regras, com o
comportamento e proporcionam informação sobre o que é bom ou mal. O
professor construtivista cria um ambiente cooperativo-sociomoral
conduzindo o trabalho de grupo, usando alternativas cooperativas de
disciplina, lidando com conflitos, proporcionando a hora da atividade,
atraindo as crianças para a questão da limpeza, etc…
Relacionamento professor-criança
As salas construtivistas são
caracterizadas pelo mútuo respeito entre professor e criança. Este é o
contraste com a maioria das salas comuns onde se espera o respeito
somente de um lado, isto é espera-se somente o respeito para com o
professor. Este respeito mútuo pode ser discutido em termos
particulares, um tipo único de relacionamento professor-criança que é
essencial para uma sala construtivista.
O relacionamento professor-aluno vem
através da distinção de Piaget (1932) entre dois tipos de moralidade
correspondentes a dois tipos de relacionamento adulto-criança, um que
promove o desenvolvimento da criança e outro que retarda.
1. O primeiro tipo de moralidade é a moralidade de obediência
Piaget chamou de moralidade “heterônoma”
como aquilo que segue regras feitas pelos outros. Portanto, o indivíduo
que é “heteronomamente moral” segue regras feitas por outros –
simplesmente aceitando, conformando-se e seguindo regras externas sem
questionar.
2. O segundo tipo de moralidade é “autonomia”
Por autonomia, Piaget não quis dizer
simplesmente “independência” em fazer coisas por ele mesmo sem ajuda. O
indivíduo que é “autonomamente” moral segue regras por si só, regras que
emergem fora dos sentimentos internos de necessidade de como tratar os
outros.
Certamente a maioria dos educadores
desenvolvimentistas não apóia a idéia da moralidade ser simplesmente
baseada na obediência das crianças, mas querem crer que as crianças
acreditariam com convicção nos valores morais básicos de respeito aos
outros. Sem crenças que surjam da convicção pessoal, as crianças não
estariam provavelmente seguindo regras de moral – especialmente na falta
de alguma autoridade. Os educadores geralmente orientam as crianças por
caminhos que promovam mais obediência do que autonomia. Em muitas
escolas, o ambiente sociomoral exige que as crianças sejam submissas e
conformadas, em detrimento da iniciativa, autonomia e pensamento
reflexivo.
Professores construtivistas respeitam as
crianças ao defender os direitos das mesmas através de seus
sentimentos, idéias e opiniões. Eles usam de sua autoridade
seletivamente e abstém-se de usar seu poder desnecessariamente. Desta
forma, eles dão às crianças a oportunidade de desenvolver suas
personalidades tendo autoconfiança, respeito por si e pelos outros,
questionando e criando idéias.
Hora do grupo (grouptime)
Para muitos professores, a hora do grupo
pode ser a hora de maior desafio do dia. Quando isso acontece
sistematicamente, todos percebem um lado humanitário. As crianças
participam das rotinas da classe, dividem seus sentimentos, descobertas e
compromissos com o outro e tomam decisões que afetam suas vidas na
classe. O professor deve exercitar sutilmente a liderança a fim de
orientar esse processo. Sem liderança, o trabalho ou o “grouptime” pode
rapidamente transformar-se em caos. Com muita liderança, o grouptime
torna-se orientado somente pelo professor. O professor deve saber dosar
sua liderança.
Fazendo regras e tomando decisões
Uma característica única da educação
construtivista é aquela da responsabilidade para tomar decisões e
dividi-las com os outros. Convidar as crianças a tomarem decisões e
fazerem algumas regras é uma maneira do professor reduzir sua autoridade
de adulto e promover a auto-regulação nas crianças. Crianças podem
também expressar suas idéias de maneira clara e aceitável assim todos
podem compreender e decidir se concordam ou não. As crianças têm a
possibilidade de levar a perspectiva do grupo para toda comunidade.
Regras são uma parte sempre presente na
experiência de cada criança na escola. Seja explicada e escrita ou
verbal e implícita, as regras são uma parte necessária para a vida da
classe. Se as experiências com regras servem para contribuir para o
desenvolvimento moral e social, o professor deve considerar
cuidadosamente como trabalhar com as crianças em relação às regras.
Os dois exemplos no início deste artigo
tratam de regras na classe. O primeiro exemplo vêm de um vídeo cujos
dados coletados fazem parte de um estudo de comparação de ambiente
sociomoral e desenvolvimento sociomoral de crianças nas classes,
refletindo diferentes teorias de aprendizagem e desenvolvimento (ver: De
Vries, Haney e Zan,1991, para uma descrição completa do estudo). Nesta
classe, as regras são relativas a maioria dos comportamentos, e o
professor não discute as razões para estas regras.
O segundo exemplo foi de um vídeo com
dados coletados da Escola-Laboratório de Desenvolvimento Humano na
Universidade de Houston. Nesta classe, o foco do professor foi sobre as
razões das regras baseadas na consideração de outros sentimentos. Na
primeira classe, o professor escreveu todas as regras no início do ano e
apresentou-as para as crianças. Na segunda classe, as crianças fizeram
as regras em resposta aos problemas como “bater e respeitar o nome do
colega chamando-o pelo mesmo”.
Como nós tentamos ilustrar com o segundo
exemplo, não é necessário dar às crianças regras prontas. Com a
orientação cuidadosa do professor, as crianças podem sugerir regras,
contudo as regras podem não tomar a forma esperada pelo professor. Os
acontecimentos dos quais se fazem as regras incluem a necessidade de
orientações, para transformar a classe em um lugar feliz e necessário
para se resolver problemas particulares da mesma (por exemplo: Quando
algumas crianças acham injusto, outras não quererem ajudar na limpeza).
Nas discussões sobre as regras, o
professor pode enfatizar as razões para a criação das mesmas. Quando as
próprias crianças fazem suas regras em resposta aos problemas que elas
experienciaram na classe, elas são mais propensas a tomar posse das
mesmas. Elas estão também mais propensas a sentir necessidade de seguir
essas regras, e dividir a responsabilidade em cumprir as mesmas com os
outros.
As regras das crianças, quando possível,
deveriam estar disponíveis na forma escrita (um livro de regras
ilustrado pelas crianças, uma lista pendurada na parede, etc…) na
classe. Assim, quando algum fracasso ocorrer, o professor construtivista
pode referir-se as próprias regras que as crianças tenham feito e
enfatizar que a autoridade moral da classe não vem do professor, mas das
próprias crianças.
Quando os professores oferecem às crianças oportunidades delas
certificarem-se das decisões sobre o que acontece em suas classes (por
exemplo, qual de dois livros ler, aonde ir numa saída a campo, ou que
comida servir para uma festa na classe), as crianças têm noção de
comunidade e dividem as responsabilidades nas mesmas.
Votação
Quando as opiniões das crianças divergem
sobre decisões a serem tomadas, o professor pode introduzir o voto às
crianças. Votar oferece excelentes oportunidades para as crianças
mudarem e defenderem pontos de vista, ouvindo o ponto de vista dos
outros, e decidindo temas com justiça. (o professor verá no voto
numerosas oportunidades para lições de linguagem oral e escrita, assim
como na matemática). Através de muitas experiências com o voto, (mesmo
com crianças de 4 anos) pode-se eventualmente construir a idéia de
igualdade de como elas vêem a opinião de cada pessoa de forma válida e
dada com o mesmo peso no processo de tomar decisões.
Votar pode ser conduzir em vários
caminhos, mas nós não aconselhamos pedir as crianças mais novas para
erguerem as mãos. Este método apresenta numerosos problemas. Geralmente
as crianças cansam de permanecer com as mãos para cima, então as mãos
pendem e o professor tenta persuadir as crianças a permanecerem com suas
mãos erguidas até que ele ou ela possa dar sua opinião. Muitas crianças
que não compreendem totalmente o processo podem votar em toda opinião
que foi dada, provocando assim, as outras crianças a reclamarem que não é
justo que algumas votem mais de uma vez.
Finalmente, quando o professor conta as
mãos, as crianças nunca estão certas que suas mãos foram vistas e
contadas. Em suma, as crianças têm dificuldade em seguir o processo, e
muito do valor do voto é perdido. O professor deveria escolher um
processo de votar que as crianças possam seguir e compreender, tal como
sondar junto às crianças, indo sistematicamente ao redor da sala e
escrevendo o nome de cada criança abaixo da escolha, ou permitindo que
as crianças usem papéis em forma de cédulas.
Discussões sobre o dilema moral e social
O trabalho em grupo (grouptime) oferece
oportunidades para o professor instigar o raciocínio moral das crianças e
assim, conduzi-las para discussões sociais e morais. A vida diária na
classe freqüentemente proporciona material para discussões, quando algo
acontece ou quando a criança acredita que algo não é justo.
A literatura infantil pode proporcionar
material para discussão de dilemas morais e sociais. Por exemplo: Dr.
DeSoto de William Steig (1982), o rato dentista (Dr. DeSoto) que tem
pena de uma raposa com dor de dente, mesmo que sua política não fosse
tratar de gatos ou outros animais perigosos para os ratos. A raposa
claramente planejou comer o Dr. DeSoto e sua esposa, mas a esperteza do
rato fez com que ele enganasse a raposa usando uma “fórmula secreta”
colando os dentes da raposa e dizendo-lhe que isto preveniria futuras
dores de dente. Ao discutir essa situação, o professor pode alcançar a
questão de que se é legal o rato enganar a raposa colando-lhe os dentes.
Quando conduzimos as discussões morais
através de estórias com crianças de quatro e cinco anos, nós observamos
que a maioria das crianças defenderá o rato. Contudo, uma criança vê a
perspectiva da raposa, e preocupada com sua boca colada diz que a raposa
morrerá de fome. Nós também observamos uma outra criança com mais de
quatro anos que concordou com o fato do rato colar a boca da raposa, já
que se a raposa comesse o rato não haveria ninguém para consertar os
dentes dos outros ! Este tipo de experiência contribui especialmente na
construção do julgamento moral.
Alternativas cooperativas para disciplina
A proposta construtivista para
“disciplina” não consiste em controlar e punir as crianças a fim de
socializá-las. Até certo ponto, nós trabalhamos com as crianças e como
elas gradualmente descobrem como respeitar os outros de maneira mútua.
Isto não significa que os professores são permissivos e as crianças
indisciplinadas. Pelo contrário! Os professores construtivistas são
totalmente ativos na busca por alternativas de disciplinas que enfatizem
as conseqüências naturais e lógicas de uma má ação e o resultado na
quebra do compromisso social. Quando um objeto é quebrado, alguns são
privados do seu uso e podem ficar bravos ou tristes. Quando possível, à
pessoa que quebrou o objeto é dada uma oportunidade de fazer a
restituição para reparar ou recolocar o objeto. Quando alguém mente,
outros sentem que não podem confiar naquele que contou a mentira. O
rompimento no compromisso social então requer reparos. As crianças devem
valorizar esses compromissos sociais a fim de querer repará-los. Isto
se torna próximo, tratando-se de relacionamentos entre crianças, assim
como entre criança e professor, é um componente integral da atmosfera
sociomoral construtivista.
O conflito e sua resolução
Conflitos são inevitáveis numa classe
onde as crianças interagem livremente. Mais do que tentar prevenir
conflitos, a professora construtivista usa o conflito com as crianças na
interação com a classe, como oportunidade de ajudar as crianças a
reconhecerem as perspectivas dos outros e assim aprenderem a desenvolver
soluções que são aceitáveis para todas as partes. Os professores podem
ajudar na solução dos conflitos das crianças ao falar sobre o problema
nos termos que a criança possa entender, ajudar as crianças a verbalizar
sentimentos e desejos para com os outros e ouvir um ao outro, além de
convidar as crianças a sugerirem soluções. Esses princípios são
ilustrados no seguinte exemplo:
Nós podemos ajudar as crianças a resolver problemas sociais
Heitor colocou uma pequena escada em
direção ao buraco da caixa de correio com um pequeno saco de bater como
alvo. Marcel não quis a escada lá.
Professor: Desculpe-me. Eu não posso ouvir suas palavras. Você pode falar de novo? Heitor: (resmunga de modo inaudível) Professor: Oh, então fazer isto é mais excitante, foi você que colocou aquilo lá? É mais difícil jogar lá ou mais fácil? Heitor: (Inaudível) Professor: Bem, Marcel, você acha que seria uma forma divertida de jogar com isto? Marcel: (Inaudível) Professor: Ok, Hector disse que é muito divertido para ele. Marcel: Isto é ruim. Professor: Bem, porque você não fala com Heitor sobre isto. O que você gostaria de falar com ele sobre isto? Marcel: Eu não sei. Professor: Bem, o que você acha que nós deveríamos fazer, já que Heitor gosta de jogar com isto desta forma? Marcel: (ele encolhe os ombros e diz algo inaudível) Professor: Heitor, Heitor você sabe o que? (senta-se no chão ao lado de Heitor). Eu acho que nós temos um problema. Você sabe qual é este problema? (Heitor continua a jogar em direção a escada e não parece estar escutando). Heitor, você pode ouvir minhas palavras? Eu entendo que você gostaria de jogar com isto (pega a escada). Marcel disse que ele não gostaria de jogar com isto. Então o que vocês deveriam fazer garotos? Heitor: Eu quero jogar com ele… (quase inaudível) Professor: Marcel, você pode ouvir a idéia dele? Qual é a sua idéia, Heitor? Marcel: (inaudível) Professor: Você ouviu a idéia dele? Marcel: Uhmm…Só depois de tirarmos a escada...(quase inaudível) Professor: Heitor, você pode ouvir a idéia de Marcel? Heitor: Sim… Professor : Vamos escutá-la de novo. Qual é sua idéia, Marcel? Marcel: Eu disse. Heitor: (joga a bola, parece não estar ouvindo ou prestando atenção) Professor: Heitor, vamos escutar a idéia de Marcel já que ele tinha uma. (o professor pega a bola também). Heitor, nós pararemos apenas um minuto com a bola, então poderemos ouvir uma outra idéia. Qual era a outra idéia, Marcel? Marcel: Depois que você parar com isso, então poderemos conversar de novo. Professor: Ok, isso parece uma boa idéia? Heitor: Não, eu quero continuar fazendo isso… Professor: Hector quer fazer isso agora mesmo. Marcel: Bem, ele pode jogar por mais dois segundos com aquela coisa vermelha (aponta para a escada) e então eu irei (aponta para o buraco da caixa de correio e para a escada). Bem, talvez nós possamos dividir, eu não sei… Professor: Talvez eu pudesse dividir? Você acha que eu poderia dividir, Heitor? Heitor: (resmunga quase inaudível) Professor: Ok, garotos! Vocês sabem, que quando vocês fazem uma tentativa, eu consigo saber se precisam de alguma ajuda ou não, mas eu aposto que vocês podem descobrir isso sozinhos também (uma vez observada a atitude cooperativa das crianças, e sentindo que as mesmas podem trabalhar juntos, ela parte). Hector e Marcel conseguiram voltar a jogar juntos, arremessando a bola no buraco da caixa de correio com a ajuda de uma escada. Marcel aceita a escada apoiada na direção do buraco.Nós reconhecemos que a resolução do conflito não é única para a educação construtivista. Contudo, a perspectiva construtivista pode ser única em aceitar o conflito e sua resolução como parte importante do currículo e não apenas ver o conflito como um problema a ser controlado. O trabalho de Piaget leva a reconhecer que a resolução do conflito não é apenas uma técnica, mas, que sofre uma mudança no desenvolvimento, envolvendo reconhecer e descobrir como reconciliar diferentes pontos de vista.
Tempo de atividade
Tempo de atividade (ou tempo central) é
talvez o mais importante período do dia na sala construtivista. O
objetivo do tempo de atividade na sala construtivista é que as crianças
estejam intelectualmente, socialmente e moralmente ativas, e mais e mais
autocontroladas. Por exemplo, numa atividade de afundar e flutuar, o
professor construtivista pede a criança para refletir sobre porque
alguns objetos afundam e outros flutuam, encoraja as crianças a
considerar as opiniões contraditórias, e sustenta a busca para o
conhecimento através da observação e experimentação.
No decorrer do agir sobre os objetos e
discutir resultados, as crianças “lêem” os resultados de uma experiência
e têm a oportunidade de aceitá-los mesmo se eles predizem algo
diferente. O professor também pede as crianças para refletirem sobre
como voltar na atividade, ajudá-os a tornarem-se conscientes que muitas
outras crianças querem este privilégio ao mesmo tempo, e sugere que eles
tentem descobrir formas de satisfazer a todos. Quando os professores
construtivistas recusam-se em ser autoritários, eles abrem uma nova
forma das crianças lutarem com suas próprias questões e não confiarem
unicamente nos adultos como guia.
As atividades colocadas em classe
associadas com a proposta de desenvolvimento da criança na primeira
infância inclui o jogo da imitação, de construir e outras atividades de
construção, artes, leitura e escrita. Outras atividades únicas para
construir a educação são jogos em grupo (Kamii & De Vries, 1980) e
atividades de conhecimento físico (Kamii & DeVries, 1978/1993). Nas
salas construtivistas, as atividades são planejadas com o interesse das
crianças, e as crianças são regularmente consultadas sobre o que elas
querem saber e fazer. Novas oportunidades podem ser introduzidas na hora
do grupo, com sugestões sobre possíveis objetivos que as crianças podem
querer exercer. -Lembra o que você disse que queria aprender sobre
as bolhas? Eu ponho um pouco de sabão e água num lugar que se possa
sujar, então você pode experimentar e descobrir como fazer a mágica de
formar boas bolhas de sabão.
O professor construtivista permite as
crianças escolherem livremente suas atividades e colegas. Intervindo com
moderação enquanto permite que as crianças exercitem a iniciativa, o
professor avalia o raciocínio das crianças e dedica-se em encorajá-las a
testarem suas próprias idéias. -Que tipo de forma você acha que seu quadrado mágico formará ?
A interação é encorajada ao enfatizar-se
a ajuda a outras crianças, fazendo-se negociações quando houver tensões
e dividindo-se experiências.
Hora da limpeza
Alguns professores da primeira infância
consideram a hora da limpeza como uma das mais difíceis horas do dia e
resolvem esse tipo de problema, fazendo toda a limpeza eles mesmos.
Contudo, os professores construtivistas utilizam-se da hora da limpeza
para promover o desenvolvimento dos sentimentos de responsabilidade nas
crianças. Por encorajar as crianças a ter responsabilidade em cuidar da
própria classe, os professores reduzem sua autoridade e retomam a
autoridade moral sobre as crianças, deste modo promovem o
desenvolvimento de auto-regulação. Problemas com a limpeza
inevitavelmente proporcionam oportunidades para os professores dirigirem
discussões que ajudam as crianças refletirem sobre as razões práticas e
morais da limpeza. “Ninguém nota que algumas crianças ficam apenas
caminhando ao redor da classe durante o tempo da limpeza ? Ninguém tem
alguma idéia sobre o que deveria ser feito na hora da limpeza ?”
Conteúdos
A falsa concepção sobre educação
construtivista é que, se a mesma inclui o jogo, não inclui conteúdos. De
fato, os professores construtivistas são seriamente preocupados com a
construção do conhecimento das crianças sobre alfabetização, numeração,
ciência, estudos sociais e artes. Nós queremos enfatizar que os
conteúdos nas classes construtivistas ocorrem no contexto da atmosfera
sociomoral que nós descrevemos aqui. Não é possível compreender a
proposta construtivista dos conteúdos sem primeiro compreender o
construtivismo na atmosfera sociomoral.
O problema para o professor
construtivista em propor algum conteúdo acadêmico é distinguir o que
deve ser construído e o que deve ser instruído. A distinção de Piaget
entre três tipos de conhecimento ajuda o professor a fazer essa
distinção. Quando um tópico envolve conhecimento de objeto físico (por
exemplo, quais objetos flutuam ou afundam) o professor encoraja as
crianças a agir sobre objetos e refletir sobre as reações. Quando um
tópico é arbitrário ou convencional (tal como o Natal que é dia 25 de
dezembro e que a letra “A” é chamada de “a”), o professor não hesita em
informar as crianças. Como todo conteúdo envolve conhecimento
lógico-matemático, o professor encoraja as crianças a colocarem coisas
em relações (por exemplo, quais objetos pesados parecem afundar e quais
objetos leves parecem flutuar – mas nem sempre), faz comparações e
generalizações, além de testar as hipóteses das crianças.
Talvez a característica mais distinta de
uma proposta construtivista para com os conteúdos seja o respeito aos
erros das crianças. Isto resulta no sentimento livre das crianças ao
expressarem o raciocínio sem medo de errar. O professor construtivista
aceita o erro da criança ou parcialmente corrige idéias, sendo isso
necessário para o processo construtivo que acaba eventualmente (mas não
significa imediatamente) em corrigir o conhecimento. Por exemplo, quando
uma criança de 4 ou 5 anos insiste que os pontos num dado estarão
visíveis na sombra, o professor sabe que a criança não está convencida
de ter dito isso. O professor assim isenta-se em corrigir a criança, e
ao invés disso cria oportunidades para a criança experimentar e
descobrir através da observação da sombra do dado.
Igualmente, o professor pode observar a
criança fazendo um erro lógico quando contando espaços num tabuleiro de
jogo. Isto é, a criança rola o dado e conta como “1” o espaço ocupado
sobre o qual ele ou ela lançou na vez anterior. Reconhecendo que a
criança está convencida da exatidão de sua estratégia, o professor
isenta-se em corrigir a contagem da criança. O professor construtivista
prefere proporcionar as crianças um dado com somente um ou dois pontos, e
então a criança contará “1” e assim por diante…Um sentimento de
contradição dirigirá a criança eventualmente para corrigir a própria
lógica dele ou dela.
Criando situações ativas
A integração construtivista dos
conteúdos envolve a criação de situações ativas nas quais as crianças
exercem seus próprios interesses e objetivos. Como Dewey (1913/1975)
mostrou-nos quase um século atrás (e provavelmente a maioria das pessoas
podem atestar em suas vidas no dia a dia), as pessoas sempre investem
mais tempo, energia e atenção no que lhes é de interesse. Quando um
objetivo de uma criança é jogar um certo jogo, há o interesse em ler as
regras, contar e escrever palavras e numerais espontaneamente. Quando as
crianças querem cozinhar, elas são inspiradas em tentar descobrir o que
a receita diz.
As crianças são mais ativas mentalmente
quando elas são fisicamente ativas em tentar descobrir como fazer algo.
As atividades do conhecimento físico envolvem movimento de objetos
(física elementar) e mudança dos objetos (química elementar) inspira as
crianças a construírem conhecimento sobre o mundo físico. Por ex. usar
uma bola com um barbante para bater num alvo (como um pêndulo) inspira
as crianças a construírem o conhecimento sobre o espaço e as relações
causais. -Você acha que eu posso bater contra o alvo se eu puser isto aqui (fora do alcance do pêndulo)?
O fato de experimentar como usar
diferentes quantidades de farinha, água e óleo ao fazer massa de
modelar, inspira as crianças a construírem o conhecimento sobre a
influência de cada substância na consistência da massa de modelar. -O que você pode adicionar para fazer sua massa de modelar menos mole?
Promovendo a interação social
A proposta construtivista dos conteúdos
também envolve promover a integração social através de conteúdos
específicos. A vida social é preenchida com necessidades de comunicação.
Ler e escrever numerais, contar e calcular são necessários numa
variedade de atividades. As crianças podem escrever os nomes e preços de
itens num menu para um restaurante, acrescentar números quando marcando
pontos num jogo (em jogos de grupo tais como boliche), e aprender a
escrever os nomes uns dos outros.
Enfatizando auto-regulação e reflexão
A proposta construtivista dos conteúdos
enfatiza a auto-regulação e a reflexão que dirige para a compreensão,
autoconfiança e uma atitude de questionar e avaliar de forma crítica.
Isso motiva as crianças a pensarem sobre causas, implicações e
explicações de fenômeno físico e lógico tanto quanto o fenômeno social e
moral. Nós, contudo, vemos o desenvolvimento da moralidade e
inteligência como interligadas e indagamos que a vida numa classe moral
também promove o desenvolvimento intelectual das crianças. Nos
precavemos, contudo, que é possível verificar uma atmosfera cooperativa
sociomoral em atenção aos conteúdos. O melhor aprendizado de conteúdos é
sustentado sobre uma estrutura de compreensão de como as crianças
constroem o conhecimento.
Conclusão
Os princípios práticos de ensino
discutidos neste artigo estão baseados em John Dewey e outros pioneiros
da educação progressiva. Enquanto algumas atividades “sociomoral” não
são inteiramente novas, a educação construtivista proporciona novos
raciocínios e práticas sustentadas na pesquisa e na teoria. Com essa
estrutura teórica, velhas atividades são enriquecidas e novas
possibilidades emergem.
O tipo de atitude sociomoral que nós
discutimos pode desenvolver-se muito cedo. As capacidades evidentes das
crianças sugerem que educadores deveriam insistir nisso pelo menos para
crianças na idade de 4 anos. Nossa pesquisa demonstra que crianças das
salas caracterizadas de uma atmosfera sociomoral construtivista são mais
avançadas no desenvolvimento sociomoral, resolvem mais os seus
conflitos e desfrutam mais amigavelmente as interações com seus pares do
que crianças vindas de classe de ambiente mais autoritário.
A única forma para nós vivermos juntos
com sucesso como espécie humana é descobrir como tratar com diversidades
de todo tipo. Se as crianças aprendem a fazer isso em seus pequenos
grupos, talvez eles sejam capazes de expandir-se para grupos maiores em
sociedade. Ao dar as crianças logo cedo oportunidades de competência de
desenvolvimento sociomoral, nós podemos evitar o desenvolvimento de
adultos que sabem somente como se submeter às regras. Ao promover desde
cedo o desenvolvimento sociomoral das crianças, nós poderemos colocá-las
no caminho para tornar-se o tipo de adulto que pode levar adiante as
responsabilidades de cidadania democrática e trabalhar em igualdade nos
relacionamentos humanos.
Texto original em inglês divulgado na página da autora na Internet traduzido:http://www.uni.edu/coe/special-programs/regents-center-early-developmental-education
ALGUNS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS OBJETIVOS.
MARIA DA PENHA APARECIDA KLUG BASILIO CARNEIRO
Parte da monografia apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Educação Infantil da Escola
Superior Aberta do Brasil como requisito
para obtenção do título de Especialista em
Educação Infantil, sob orientação da Prof.
Ms. Patrícia Ebani Peixoto
Conforme discorrido no capítulo anterior, a prática de avaliação na educação infantil,
prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 20 de
dezembro de 1996, orientada pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil e amplamente discutida por pesquisadores, aponta para a necessidade de se
estabelecer uma ação dialógica, reflexiva e vinculada aos objetivos da educação
infantil. Foi constatado que os diversos autores consultados partilham da tese de
que a avaliação presente em escolas de educação infantil deve se preocupar com
algumas questões centrais: com o tipo de cidadão que se pretende formar e com
que habilidades. A partir da preocupação com os sujeitos que a escola pretender
formar defini-se qual é o papel da avaliação e como realizá-la.
Os autores pesquisados apontam também que a avaliação envolve uma questão
polêmica, rodeada de questionamentos e embutida de aspectos sociais, políticos e
éticos, que têm relevância preponderante, inclusive, sobre a parte técnica quanto à
definição dos instrumentos de avaliação. Frente a esse panorama, as pesquisas e
os estudos analisados indicam a importância do rompimento com as práticas
classificatórias e de se adotar a cultura de avaliação com práticas cabíveis e
aplicáveis conforme as especificidades de cuidados e educação de crianças com
idade entre zero e cinco anos.
A escolha dos instrumentos e de seus objetivos é influenciada pelos aspectos
anteriormente citados. Por esse contexto, a avaliação na educação infantil tem
vários âmbitos que demandam um olhar multifacetado e diversas linguagens. Neste
capítulo abordaremos algumas formas de avaliação (ou alguns dos instrumentos)
indicados por documentos oficiais e por pesquisadores, adotados com maior e
menor intensidade nas escolas de educação infantil no Brasil.
Zabalza (2006) discute os tipos de avaliação em educação infantil, destacando que
todos têm virtudes e limitações, portanto, há a necessidade da escola escolher e definir o
instrumento mais adequado de acordo com os objetivos que se pretende alcançar.
Avaliar na educação infantil demanda uma série de instrumentos que colaboram
para que o educador verifique como a criança está em suas múltiplas formas de ser,
expressar e pensar, o que significa conhecer para auxiliar no desenvolvimento.
(BARBOSA, 2004).
Assim, Barbosa (2004) aponta:
Com instrumentos variados, utilizados em situações diversas, sempre
autênticas e de aprendizagem, podemos recolher as informações
necessárias para apreciar as capacidades das crianças, isto é,
acompanhar o que elas já conhecem, o que sabem fazer (trabalhar com
todos os domínios específicos, não priorizando as atividades lingüísticas),
as estratégias que usam para resolver problemas, suas formas de
expressão, seu desenvolvimento motor, as estratégias interessantes etc
(BARBOSA, 2004, p. 17).
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998)
existem várias maneiras de se realizar os registros decorrentes das observações dos
professores, sendo a escrita a mais comum e acessível e, dessa forma, a
importância dos registros aparece como elemento que compõe um rico material de
reflexão e ajuda para o planejamento educativo. Os principais instrumentos
apontados são a observação e o registro, através dos quais os educadores podem
fazer uma abordagem contextualizada dos processos de aprendizagem das
crianças, da qualidade das interações e acompanhar os processos de
desenvolvimento a partir das experiências das crianças. Essa abordagem dialógica e
reflexiva fornece ao professor e à equipe pedagógica uma visão integral das
crianças e também as particularidades. As formas de registros da observação
podem ser: escritas (relatórios, cadernos de registro do aluno, fichas); gravadas: em
áudio e vídeo; através das produções das crianças (desenhos, esculturas), ou ainda
com fotografias.
Iniciamos a exposição dos instrumentos indicados para a avaliação e seus objetivos
pela observação. Essa forma de captar e entender o universo das crianças consiste
em aprender a olhar e a escutar. Trata-se de olhar com hipóteses e com objetivos,
de forma sistemática, com um campo de observação delimitado no momento em que
as crianças estão em ação. Observa-se não só a atividade infantil, mas também fotografias, vídeos, produções infantis e toda manifestação das crianças (BARBOSA,
2004).
A avaliação através da observação das brincadeiras oferece aos educadores uma
rica fonte de informações acerca do desenvolvimento infantil, pois quando brincam
as crianças manifestam ações relativas à resolução de conflitos; experimentam
papeis e desenvolvem um conjunto de habilidades: pensamento crítico, conteúdo
significativo, formação cultural, conectar ideias, fazer escolhas, conviver com
pessoas diferentes, ter visão globalizada, enfim, é uma forma de desenvolver as
bases de sua personalidade.
Brincar assume um papel significativo para o desenvolvimento saudável, pois é
oportunidade para o resgate dos valores mais essenciais dos seres humanos; como
potencial na cura psíquica e física; como forma de comunicação entre iguais e entre
gerações; como instrumento de desenvolvimento e ponte para a aprendizagem;
como possibilidade de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos
socioeconômicos, conforme aponta Adriana Friedmann (2004).
Conforme Vygotsky (apud Horn, 2003) o ato de brincar proporciona um suporte
básico para as mudanças das necessidades e da consciência. A ação da criança no
âmbito da imaginação oportuniza a criação das intenções voluntárias e a formação
dos planos da vida real e das motivações da vontade. Brincar se constitui no mais
alto nível de desenvolvimento e, somente nessa dimensão a brincadeira pode ser
considerada uma atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança.
Kramer (2003) sugere um caderno de observações da turma, no qual os registros
são realizados pelo professor de forma livre, englobando os acontecimentos, as
mudanças, conquistas e interpretações, inclusive sobre as atitudes e sentimentos do
próprio professor. No dia a dia, o professor deve observar um grupo de crianças,
entre três e cinco e realizar anotações nos relatórios de avaliação individual, que
posteriormente deve ser discutido com a supervisora. Além destes, Kramer (2003)
indica a adoção de calendários mensais, que especificam as atividades e oficinas,
sendo que após a realização da atividade as crianças escrevem o nome ou
desenham um símbolo, para compor um quadro de preferências, aversões
dificuldades etc. Por fim, semestralmente, são respondidas as fichas de avaliação
do trabalho escolar pelos profissionais da equipe pedagógica da escola.
Quanto aos relatórios Barbosa (2004) aponta que são instrumentos utilizados pelos
professores para registrar as observações das crianças, as situações, as
experiências e os diversos aspectos do grupo, dos alunos individualmente e de seus
processos, tanto na aprendizagem quanto no âmbito relacional e de grupo. Destaca
a importância deste instrumento, por expressar a memória do trabalho realizado com
a turma e por que se constitui em um ponto de referência para o planejamento e a
avaliação do trabalho
As fichas de avaliação são muito presentes na prática de avaliação infantil e se
constituem em tabelas e/ou quadros com questões objetivas e pouco espaço para
relatos discursivos. São preenchidas, ao final de algum período, com anotações de
aspectos e características invariáveis sobre crianças em idades diferentes,
freqüentemente com termos imprecisos que enfatizam somente as atividades e
áreas do desenvolvimento das crianças que, muitas vezes, ainda não foram
instigadas pelo professor. Segundo Ciasca e Mendes (2009, p. 303), “[...] além de se
reduzir ao registro, freqüentemente, esse instrumento de avaliação surge isolado,
descontextualizado do cotidiano das crianças e do projeto pedagógico elaborado
pelo professor ou pela instituição.” Complementam ainda que: “Transforma-se,
assim, a avaliação em registros sem qualquer significado ou importância
pedagógica”. Embora as fichas de avaliação sejam criticadas pelo reducionismo e
objetividade, Kramer (2003) indica esse tipo de instrumento associado a outros, para
compor um quadro mais amplo de avaliação e não indica o seu uso isolado.
A respeito da análise das produções infantis, deve ser considerado que a
criatividade da criança precisa ser explorada através de diversas situações e
atividades, visto que “[...] em nenhum outro período da vida o ser humano se
desenvolve tanto quanto nos primeiros seis anos. Essa é a fase em que o cérebro
forma o maior número de sinapses, ou seja, as ligações que usamos para processar
as informações recebidas”. (ALENCAR, 2009, p. 31).
Especialmente acerca do desenho infantil, Longo (2005) aponta para a necessidade
de entendermos o desenho como uma linguagem, um sistema de signos
diretamente relacionado ao contexto cultural e, por isso, carregado de sentimentos e
juízos de valores, de acordo com a idade da criança. Através do ato de desenhar a
criança expressa palavras, conceitos, relações, gestos, acontecimentos que se
referem às suas vivências. A importância de desenhar está ligada a organização do
pensamento, das emoções e dos sentimentos. É através da expressão artística que
a criança expressa suas vivências e experiências e articula a atividade intelectual, a
sensibilidade e a habilidade manual. (ALENCAR, 2009).
Conforme Aroeira (1996), Longo (2005) e Greig (2004) desenhar é uma ação que
envolve o desenvolvimento emocional, intelectual, físico, perceptual e social. No
plano emocional, a arte é um espelho, o desenho de uma criança revela muitos
aspectos emocionais, sendo que “[...] a criança emocionalmente livre identifica-se
intimamente com sua obra e sente-se segura diante de qualquer problema que
derive de suas vivências” (AROEIRA, 1996, p. 52). O desenvolvimento intelectual se
manifesta através da consciência de mundo, ou seja, a partir da compreensão que
ela tem de si e de seu meio.
Diante disso, ao desenhar, a criança identifica-se com sua obra, reforça a
autoconfiança e a segurança por que o desenho é um registro, uma marca que para
ela tem muitos significados, sendo assim qualquer intervenção no desenho da
criança é uma agressão a sua criação. Por exemplo, quando um colega rabisca o
desenho dessa criança, ela manifesta com insatisfação a agressão que o seu
desenho sofreu, isto para ela é um ato de violência. Quando o adulto escreve na
folha do desenho ou corrige o desenho da criança, igualmente está praticando uma
agressão, inibindo a capacidade criativa da criança. Esse é o pressuposto da
corrente da escola contemporânea (anos 1980) de análise da produção infantil que
argumenta que não se deve descartar o processo interno de cada um e que defende
a associação entre subjetividade e cultura. (MARTIN, 2007). Logo, as observações e
a avaliação devem girar em torno do processo de elaboração das produções infantis
e dos significados que as crianças atribuem.
Os anedotários representam suportes de uso do professor, onde são
registrados/anotados as experiências e vivências de cada aluno, com registros das
expressões lingüísticas, as cenas descritas, o envolvimento em algum
projeto/atividade, ação com brinquedos, relacionamento entre amigos, com os
adultos etc. Pode ser complementado com registros fotográficos. (BARBOSA, 2004).
O livro da vida da turma é confeccionado pelas próprias crianças, com diferentes
linguagens, tendo como foco registrar aspectos significativos da vida em grupo. Nele
são impressas as experiências vividas, as aprendizagens realizadas, os problemas
solucionados, os dramas vivenciados, enfim, é uma memória coletiva do convívio
social, conforme Barbosa (2004).
Outro instrumento de avaliação muito indicado por diversos profissionais e
pesquisadores é o portfólio, que documenta o processo de aprendizagem do
educando e, portanto, uma forma de diálogo entre professor e aluno (BEHRENS
apud RAIZER, 2009).
Segundo Parente (2004) os portfolios não são apenas para captar e documentar a
evolução da competência da criança, mas devem providenciar informações
significativas sobre as experiências de aprendizagem da criança realizadas ao longo
do tempo. Quanto ao tipo de portfólio, a autora supracitada referencia o trabalho de
Rolheiser, Bower e Stevahn (2000) que aconselham aos professores a fazer a
seleção entre duas categorias que consideram principais: o portfolio de crescimento
e o portfolio dos melhores trabalhos.
O portfolio de crescimento é desenhado com o objectivo de demonstrar o
crescimento e desenvolvimento individual ao longo do tempo. O foco no
crescimento e desenvolvimento acarreta uma ligação estreita às metas e
objectivos educacionais identificados para cada criança. Este tipo de
portfolio pode conter evidências que revelam os esforços, os insucessos,
os sucessos e as diversas mudanças ocorridas ao longo do tempo. O
objectivo é que os alunos possam ver as suas próprias mudanças,
realizadas ao longo do tempo, e possam partilhar a sua viagem no
desenvolvimento e na aprendizagem com os outros. O portfolio de
crescimento pode constituir a matéria prima para construir o portfolio dos
melhores trabalhos. O portfolio dos melhores trabalhos sublinha e mostra
evidências do “melhor” que foi realizado pelo aluno. Este tipo de portfolio
acentua a dimensão do reconhecimento do próprio valor e do sentido de
realização e pode favorecer o desejo de partilhar o seu trabalho com os
outros. Torna possível revelar da quantidade de esforços que os alunos
investem nos seus trabalhos e realizações (PARENTE, 2004, p. 59).
Conforme Valiati e Cairuga (2004), no portfólio, a seleção dos trabalhos tem por
base a escolha das crianças, com suas opiniões e expressões. As crianças
envolvem-se no processo de avaliação, tornam-se protagonistas e conscientes de
seus avanços, interesses e aprendizagens. Dessa forma, Raizer (2009) considera
que o portfólio só tem real sentido quando traduz o desejo dos envolvidos no
processo ensino-aprendizagem, quando expressam avanços, mudanças conceituais
e novas formas de pensar e, quando os educadores realizam uma leitura atenta dos
dados, observado os objetivos e a flexibilidade do planejamento.
A partir de uma breve abordagem foram apresentados alguns instrumentos de
avaliação infantil, considerando que, além destes, outros são citados pela literatura
pertinente, porém para atender aos limites deste trabalho não foi possível descrevê-
los. Conforme as orientações dos pesquisadores consultados, os diversos
instrumentos de avaliação devem ser articulados, de modo a considerar que o
processo educacional, e, especialmente, que a aprendizagem ocorre de forma
global. Assim, Zabalza (2006, p. 8) destaca que é importante “[...] saber de qual
situação partimos e ir verificando se o desenvolvimento de nossos alunos está
ocorrendo segundo a dinâmica esperada para a sua idade e o tipo de enfoque
educativo que planejamos”. Ao docente cabe observar se as crianças estão
evoluindo em um bom ritmo, se essa evolução ocorre de maneira suficientemente
equilibrada e se elas estão superando as dificuldades que inevitavelmente vão
apresentando-se. Para tanto, é fundamental a articulação dos instrumentos
avaliativos com a devida valorização de todos os aspectos do desenvolvimento da
criança.
Coordenação Pedagógica 2014.
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