Educar significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos produzidos pela cultura. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. Nesse sentido, o ambiente e a rotina de trabalho são organizados para atender às necessidades das crianças, bem como favorecer a socialização, a cooperação e o desenvolvimento autônomo de habilidades.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
SOBRE OS DESENHOS DAS CRIANÇAS
VEJAM QUE TEXTO INTERESSANTÍSSIMO SOBRE O DESENHO INFANTIL, CONSIDEREI UMA AULA SOBRE O ASSUNTO E VENHO COMPARTILHAR COM OS NOSSOS LEITORES.
Para pensar o desenho da criança
Posted on 23 de agosto de 2013 by Centro de Formacao
Por Marisa Szpigel – Zá
O desenho é uma linguagem que está presente nas salas da Educação Infantil diariamente, e aqui na Escola da Vila(como já mencionei em outro post a Escola da Vila tem uma pedagogia muito próxima da nossa), em geral, as crianças desenham mais do que uma vez por dia, em diferentes momentos da rotina. O professor precisa estar preparado para planejar situações que estejam em diálogo com o pensamento da criança sobre o desenho e, ainda, que esse diálogo possa desafiar novos pensamentos, abrindo uma diversidade de caminhos possíveis a trilhar.
A frequência com que essa linguagem é trabalhada nos primeiros anos da escolaridade faz com que os professores observem transformações, o modo como cada um do grupo desenha, as pesquisas individuais e também as descobertas coletivas. O fato de o desenho ocupar espaço tão intenso no dia a dia das crianças e dos professores abre um potente campo de investigação sobre essa linguagem. Se queremos que nossos alunos desenhem sempre, é fundamental refletir continuamente sobre esse campo.
O que olhar no desenho da criança? O que comentar? Será que os pequenos só rabiscam? Quando vão começar a desenhar? Por que essa criança de cinco anos ainda não figura? Mesmo convivendo com crianças desenhando, muitas dúvidas e questionamentos se apresentam entre professores. É importante nos darmos conta de que uma parcela desse problema não será resolvida, uma vez que, ao desenhar, o pensamento visual está em jogo, guardando algo de indizível. Podemos nos aproximar bastante da produção gráfica infantil se observarmos as crianças ao desenhar, se estudarmos diferentes autores que pesquisaram o assunto e se cultivarmos o hábito de apreciar arte. Desse modo, podemos estabelecer um diálogo mais próximo com o desenho da criança, por meio de conversas verbais e conversas visuais, fazendo apreciações e propostas que permitirão mergulhar cada vez mais em suas pesquisas gráficas pessoais.
Enquanto as crianças desenham, pensam. Mas o que pensam? Essa pergunta nos faz buscar um referencial teórico que possibilita refletir sobre o desenho na perspectiva da criança. Conhecer a pesquisa de Rosa Iavelberg sobre os momentos conceituais do desenho infantil torna-se fundamental na formação do professor.
Desenhar com o corpo todo
Quando observamos as crianças bem pequenas desenhando, fica evidente que seu corpo inteiro está presente nessa ação. Nesse momento, o movimento e o gesto precisam ser explorados: a ação é a tônica do primeiro momento conceitual descrito por Rosa.
“A criança está interessada em realizar movimentos e ver o que faz enquanto desenha.”
A relação superfície-corpo precisa ser investigada pelo professor, para que ele crie propostas sintonizadas com as investigações de seus pequenos. Variar os tamanhos e formatos dos suportes para desenhar é um primeiro passo; dispor materiais gráficos que propiciem a fluência do gesto também, mas não é o suficiente, pois a relação meio e suporte não implica a presença do corpo, o protagonista dessa ação.
A pergunta: Como está o corpo? é muito importante, e para problematizar essa presença, é necessário pensar onde o suporte será colocado, ora para dar ao corpo possibilidades de ocupar o espaço, se movimentar, ora para desafiar para novas posições e a conquista de diferentes gestos enquanto grafa nas superfícies. A relação gesto-grafismo é colocada em evidência.
Observar as crianças e como seus corpos se colocam no espaço enquanto desenham lança a necessidade de repensar o desenho apenas como coisa mental, e dispara a ideia de que o corpo pensa. Faz-se necessário buscar referências na arte que possibilitem pensar o desenho em um campo ampliado. A produção de artistas contemporâneos expande as ideias acerca da linguagem, e conhecer sobre essa produção amplia as possibilidades de criação de propostas com as crianças.
"A linha como o peso do corpo e a linha como a matéria da tinta, sendo a linha aqui qualquer ação da artista sobre o suporte, e não apenas a linha do desenho.” Célia Euvaldo
Desenho com interferência
À medida que as pesquisas relativas às possibilidades de grafar sobre as superfícies se intensificam, colocar desafios no suporte, para que as crianças pesquisem outros gestos, mostra-se como um caminho para a elaboração de sequências didáticas. Colar elementos tridimensionais no suporte e deixar elementos vazados como interferências no suporte, de algum modo, colocam obstáculos ou interrompem o gesto, mexem diretamente com o movimento, destacando o próprio ato de desenhar. Esse tipo de proposta favorece a ação de olhar o desenho, mas enquanto algumas crianças continuam a explorar o movimento, outras relações podem ser notadas. Crianças que consideram os elementos como parte de narrativas e passam a desenhar ao lado desses elementos, dando continuidade a uma ideia que imaginaram a partir dele.
A relação entre o ato de desenhar e o desenho se transforma quando a ação deixa de ser a tônica e a imaginação das crianças entra em cena. A criança desenha e, não é raro dizer, quase ao mesmo tempo, o que desenhou, ao observar o grafismo, que às vezes sugere uma figura, outras um movimento, por exemplo, um lobo ou o sopro do lobo. O desenho vai se desemaranhando, figuras e formas aparecem dispostas no espaço dos suportes, em um primeiro momento desarticuladas, e depois, articuladas. Frequentemente vemos situações em que as crianças estão imersas em narrativas enquanto desenham, o que nem sempre corresponde, quando olhamos para suas produções gráficas, à história contada. “A criança agora pensa que pode desenhar o que quiser, e que muitas coisas podem aparecer em seus desenhos, coisas que existem e coisas que não existem.” Rosa Iavelberg
A imaginação dos ilustradores de livros de literatura infantil, como a de Mariana Massarani, corre solta, assim como a de nossos alunos imaginadores. Os livros de literatura podem ser explorados pelos professores e ser encarados como rica fonte de pesquisa para pensar em propostas instigantes. Podem também ser objeto de apreciações em sala de aula.
Ter algo presente no suporte, uma interferência, seja ela um elemento tridimensional como uma pedra, um barbante, uma caixinha de sucata ou uma imagem de revista ou jornal precisa ser uma proposta aberta, para que cada criança possa se deixar levar pela imaginação. O desafio não é completar um desenho, nem necessariamente figurar, mas continuar uma ideia.
Acompanhando o processo de transformação da relação das crianças com o desenho, é notável que quando as crianças descobrem que podem representar os objetos reais, identificando os acontecimentos e o entorno como fonte de pesquisa para o desenho, tornam-se porosas ao ambiente social, reconhecem como cada um desenha, passam a pensar o desenho como linguagem.
Rosa denomina esse momento conceitual de desenho de apropriação, “pelo grande desejo que os desenhistas têm de se apropriar das regularidades dos códigos de linguagem e de seu sistema aberto de simbolização.” Rosa Lavelberg
As crianças, nesse momento, podem figurar, mas ainda podem dar continuidade a pesquisas ligadas à não figuração. Como nesse momento estão abertas a qualquer tipo de referência, é importante que as propostas sejam generosas e considerem uma diversidade de manifestações, tanto as figurativas quanto as abstratas.
Desenho de observação
Quando as crianças desenham de tudo, conhecem as possibilidades de exploração gráfica, desenham casas, pessoas, bichos, plantas, conhecem esquemas de representação dessas figuras. O desenho de observação mostra-se como uma potente proposta para o enriquecimento dos esquemas construídos.
Todos olham para o mesmo canteiro de flores vermelhas, conversam sobre as cores e formas das folhas e das flores, mas cada criança encontra um esquema gráfico de representação.
O desenho de observação precisa ser entendido pelo professor não como cópia da realidade, para ser encaminhado de modo a que cada criança do grupo sinta-se desafiada a encontrar um esquema gráfico particular de registrar o que está sendo observado.
Esse post foi publicado em Centro de Formação e marcado Centro de Formação, Escola da Vila, Formação de professores por Centro de Formacao.
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