terça-feira, 31 de agosto de 2021

Sobre a construção das mini-histórias.

 Hoje é difícil falar sobre pesquisas em Educação Infantil, que respeite a criança portadora de direitos, sem citar Malaguzzi (1999), professor italiano que delineou a abordagem pedagógica centrada na criança e em todas as suas linguagens, como muito bem observa em seu poema As cem linguagens: Ao contrário, as cem existem / A criança é feita de cem. / A criança tem / cem linguagens / cem mãos / cem pensamentos / cem modos de pensar / de jogar e de falar / cem sempre cem / modos de escutar / as maravilhas de amar / cem alegrias / para cantar e compreender / cem mundos / para descobrir. / Cem mundos / para inventar / cem mundos / para sonhar. / A criança tem cem linguagens / (e depois cem cemcem) / mas roubaram-lhe noventa e nove. / A escola e a cultura / lhe separam a cabeça do corpo. / Dizem-lhe: / de pensar sem mãos / de fazer sem cabeça / de escutar e de não falar / de compreender sem alegrias / de amar e maravilhar-se / só na Páscoa e no Natal. / Dizem-lhe: que descubra o mundo que já existe / e de cem roubaram-lhe noventa e nove. / Dizem-lhe: / que o jogo e o trabalho / a realidade e a fantasia / a ciência e a imaginação / o céu e a terra / a razão e o sonho / são coisas que não estão juntas. / E lhes dizem / que as cem não existem. / A criança diz: / ao contrário, as cem existem (MALAGUZZI, 1999, p. 1). Para a elaboração de mini-histórias é necessário que o professor tenha um olhar sensível ao cotidiano escolar de Educação Infantil. O uso da fotografia nesse sentido não é um ato neutro, como afirma Vial (2014, p. 37): Percebe-se que a documentação através da fotografia não é neutra, pois está carregada de significados e escolhas por aquele que a utiliza para a produção da imagem, tendo em vista resultados que são frutos de um olhar intencionado, carregado de subjetividades, pois a fotografia é uma maneira de ver o real e não uma visão em si mesma. Ao contrário do que muitos acreditam quando algo novo aparece no segmento da educação, a inovação tem a ver com o ressignificar o antigo, por meio da transformação educativa que passa fundamentalmente pela visão e atuação do professor. As inovações e estudos na área surgem como uma possibilidade de discutir o papel social do professor como um mediador e provocador de novos conhecimentos e cenários educacionais. Na construção das mini-histórias a intenção, escolha e seleção dos contextos e situações observáveis pelos professores é essencial. Sua interpretação diante dos observáveis é que definirá a forma de tornar visível as aprendizagens, a partir das mini-histórias. A ideia das mini-histórias está ligada à revisitação dos observáveis produzidos pelos professores no cotidiano da Educação Infantil. A partir de uma breve narrativa imagética e textual, o adulto interpreta esses observáveis de modo a tornar visível as rapsódias da vida cotidiana. Essas rapsódias são fragmentos poéticos, portanto sempre episódicos que, quando escolhidos para serem interpretados e compartilhados, ganham valor educativo. (FOCHI, 2017, p. 98).





A importância do cuidar, da estética e da atenção ao que propomos no contexto da brincadeira para se tornar atrativa.

Hoje a brincadeira foi de lojinha,  as crianças participaram da montagem do contexto, e puderam opinar em onde colocar os objetos. usaram falas que escutaram dos pais, ao fazer pedidos por telefone. 
Nos cestinhos foram colocadas as imagens dos vestuários para a venda pelos telefones.
Há muitas possibilidades de despertar o protagonismo infantil, até porque o ensino e a aprendizagem são construções coletivas entre os sujeitos envolvidos nesse processo. As crianças têm capacidade de serem artífices nas artes de fazer no cotidiano e devem ter oportunidade de criar suas próprias histórias desde os primeiros anos escolares. 

O cotidiano tem muita importância para a criança e é um grande potencializador de aprendizagens evolutivas!

Na brincadeira de vida cotidiana, as crianças experimentam ações do seu convívio social, replicam comportamentos vivenciados, explorando os materiais  inseridos naquele contexto proposto para a brincadeira do dia.






 












As práticas desenvolvidas com crianças, mesmo as mais pequenas, devem ter um cuidado estético e uma responsabilidade educacional. As crianças pequenas merecem e precisam ser respeitadas, no sentido do professor pensar em formas de despertar novas aprendizagens e propiciar com rigor científico experiências que promovam o desenvolvimento autônomo. É necessário pensar e planejar a jornada das crianças, refletindo qual a melhor maneira de dar visibilidade às práticas desenvolvidas, a fim de que o trabalho realizado também seja visto e esteja em evidência na comunidade escolar e para as famílias. As mini-histórias vem a este encontro, mostrando que o cotidiano tem muita importância para a criança e é um grande potencializador de aprendizagens evolutivas, especialmente quando o adulto consegue desenvolver um olhar empático, sensível e de respeito pelos saberes e fazeres da infância. MINI-HISTÓRIAS: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO E APRENDIZAGENS SOCIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Cristiele Borges dos Santos Elaine Conte.

Afinal o que fazem os bebês na escola?


 












Ser professora de bebês é escutar constantemente nas conversas entre familiares e amigos frases como “que lindo! Tu passas o dia cuidando deles?” ou “mas tu também trocas as fraldas e dás comida?”. São nestes momentos em que reflito na beleza que é o conhecimento e o quanto ele é capaz de transformar a realidade e construir opiniões. Não parto do princípio que todos ao meu redor necessitam saber que a Educação Infantil, em especial a educação com bebês, não é apenas cuidar; que trocar fraldas não é apenas um ato de higiene; que dar uma refeição não é apenas alimentar o pequeno ser que ainda não é independente para isso. Pois, acredito que carrego uma função primordial para a valorização desta imensa responsabilidade que é ser educadora na primeira infância ao buscar constante por conhecimentos construídos na área, revisitar conceitos e abastecer-se de informações. Fazer tais movimentos é fundamental, não somente para valorizar a profissão ou ter respostas para as clássicas perguntas, mas porque escolher trabalhar com a educação é conviver com pessoas, crianças, bebês e gerações, sabendo que estes nunca serão iguais. Eles modificam-se, recriam-se e afetam a nós, professores, que devemos tentar acompanhar tais transformações. (LOBORUK, 2016, p. 12)