sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Minha professora do ano passado era mais legal!


Por Vânia Marincek
O início do ano letivo traz  consigo muitas mudanças para as crianças. Mesmo quando a Escola é a mesma, muita coisa muda de um ano para o outro: materiais, espaço, professores , colegas e, especialmente, as exigências.
Esse é um período de adaptação que as crianças enfrentam de diferentes formas. Umas passam a ignorar a professora do ano anterior, talvez como forma de “castigá-la por tê-los  abandonado”; outras ficam mais sensíveis e choram a toa, ou mais briguentas; outras ainda, se esforçam por se adaptar o mais rápido possível.
O fato é que as mudanças existem, especialmente à medida que as crianças vão crescendo e podendo dar conta de maiores responsabilidades. As exigências aumentam  e muitas vezes são sentidas pelas crianças, que expressam o que estão conseguindo captar dessas mudanças com afirmações do tipo “Essa professora é mais chata”,  “No ano passado era muito melhor porque  tinha mais parquinho”, “Na outra turma a gente fazia diferente”.
Impressões que se transformam com facilidade já no primeiro mês de aula. Em sala, quando esses comentários aparecem  deixamos que as crianças falem o que estão sentindo e vamos ajudando a localizar os incômodos das novas solicitações . Com isso, estamos ajudando os alunos a progressivamente passarem  a olhar para seu processo de aprendizagem de forma mais autônoma.A adaptação é um processo que exige tranquilidade e confiança, é necessário passar segurança para seu filho(a), de que a família confia ne escola que escolheu.
Um abraço , Equipe Pedagógica da UMEI Castelo. Fevereiro de 2011.

Hora da entrada...


Eis que chega um pai com seu filho aconchegado ao ombro, braços pendentes, respiração profunda. Mal consegue levar seu menino, e a mochila. Cambaleia até a porta da sala e dirige-se à professora falando bem baixinho, praticamente sussurrando:
- Boa tarde,professora. Hoje ele brincou muito durante a manhã inteira e está muito cansado. Veio dormindo profundamente no carro e nem se mexeu quando eu o peguei no colo. Você poderia providenciar um lugar para ele dormir por favor? Acho que este soninho vai longe…
Neste momentoa professora ouve uma risadinha e percebe os olhinhos se abrirem e fecharem rapidamente. Diz então ao pai:
- Acho que ele já está acordando, não é mesmo ? Vou te pegar no colo, sentar um pouquinho com você perto da pista de carrinhos até você acabar de acordar, combinado? Hoje teremos muitas atividades interessantes e divertidas e fico feliz ao ver que você já está despertando para participar de todas elas.
A situação descrita acima acontece algumas vezes em nosso dia a dia nos dois turnos e sabemos que este sono é legítimo, principalmente no início do ano, após a flexibilidade da rotina das crianças durante o período de férias. Muitas vezes também chegar à escola “sonhando acordado” é uma estratégia que alguns alunos utilizam para terem o privilégio de serem transportados no colo durante o percurso do carro até a sala de aula. De fato é muito gostoso poder contar com os braços fortes de quem os está trazendo, garantindo um colinho tão gostoso! Colinho de pai ou de mãe e também colinho de professora! Este último, dormindo ou acordado estará sempre disponível no início do período, quando ainda estamos organizados em cantos e as crianças estão envolvidas nas brincadeiras organizadas pelas educadoras. Enquanto escolhem com autonomia um brinquedo ou brincadeira, a professora pode receber com a atenção que merecem todos os colegas que estão chegando. Por isso a conversa com a professora deve ser breve para não atrapalhar a recepção, é melhor agendar um horário para uma conversa mais detalhada.
Contamos assim com a atenção e compreensão de todos.
Equipe Pedagógica Umei Castelo.
Fev. 2011.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A importância da rotina na escola.


O ano letivo começa e, após as férias, a escola novamente tem o movimento, a voz e as cores das crianças que retornam a este espaço cheias de expectativas, ávidas por reconhecerem as mudanças e os novos desafios. Também chegam ao espaço escolar crianças que nunca frequentaram uma escola ou que mudaram de escola. De alguma forma, elas irão se encontrar para compor as turmas.

Em casa, estas crianças já ouviram seus pais comentando: “Você vai ser da sala 3” ou “Agora você está na sal de 4/5 anos”. Imaginamos que nossos pequenos ficam curiosos pela ideia de ter uma professora que não conhecem, espaços para brincar, pintar, dançar e aprender. Porém, o que significa ser da turma...?

É fato que estar na escola e ser da escola representam desafios diferentes. Enquanto estar na escola tem um significado físico, ser da escola depende de uma construção da pertinência progressiva, que faz com que nossos pequenos aprendizes compreendam que fazem parte de um grupo. Um grupo que estará junto todos os dias, participará das mesmas atividades e construirá a sua identidade. Através do convívio diário, as crianças compreendem que a singularidade e a diversidade são reconhecidas e valorizadas nas interações que têm lugar no espaço escolar.

Neste sentido, para as crianças, a rotina cumpre um papel fundamental na construção desta pertinência. Ela é construída no dia a dia com o objetivo de organizar o tempo na escola, a ordem das atividades que acontecem numa jornada, e que são planejadas considerando as necessidades dos pequenos, os compromissos coletivos, de modo a viabilizar as aprendizagens em muitos âmbitos do desenvolvimento infantil.

Em nome desta organização, que favorece a interação com os adultos, entre pares e com os materiais e espaços, o desconhecido torna-se previsível em nome da tranquilidade que a antecipação gera. Por este motivo, acompanhamos as professoras repetindo as mesmas histórias no período de adaptação, oferecendo as mesmas propostas nos cantos de entrada, terminando o dia com rituais que marcam a saída. Tudo é planejado de forma que as crianças se olhem, façam-se conhecer, contem umas com as outras, aprendam a expressar ideias, sentimentos, e reconheçam professores e demais funcionários que apóiam esta estadia na escola, como adultos significativos, confiáveis e responsáveis por eles no período em que permanecem na escola. Isto é fazer parte de um grupo!

Os pais também podem contribuir com este trabalho, evitando atrasos, garantindo que as crianças aproveitarão cada momento desta rotina especialmente planejada. Outra sugestão é tentar obter notícias sobre as atividades, as brincadeiras realizadas junto aos colegas, procurando saber o nome dos companheiros de turma, se referindo aos adultos que trabalham na escola pelo nome, respeitando sempre a disponibilidade de cada criança para compartilhar as experiências vividas na escola.

Em pouco tempo surgem os primeiros sinais da construção da pertinência grupal. As crianças encontram conhecidos na entrada da escola e dizem: “Vamos para a nossa sala?”, “Eu trouxe dois brinquedos e vou emprestar para você!” E quando chegam à porta da sala perguntam: “O Antonio já chegou?”, “Hoje nós vamos fazer colagem?”

A construção desta pertinência permeia toda a escolaridade, pois acontecerão mudanças a cada ano: professoras, salas, novos alunos e novidades na escola. Este trabalho estará sempre presente, no cuidado com cada um e com o grupo ao qual pertencem.
Por isso a importância da rotina na escola, o compromisso com o horário de chegada e saída, a interação família- escola,estar sempre olhando os recados da agenda, saber o nome das pessoas que cuidam e educam seu filho neste ambiente,com alguns destes atos sua criança vai se sentir segura, e parte integrante dete grupo que chamamos UMEI Castelo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Espasmos do choro, O queé isso?!!


Ainda que os espasmos do choro sejam involuntários, é importante que os pais percebam que são uma forma de manipulação da criança, já que os pais tendem a satisfazer os seus desejos ou a evitar a frustração que os faz sofrer.

Os espasmos do choro, pela sua frequência, são responsáveis por um elevado número de consultas de pediatria. Ocorrem em cerca de 4% das crianças com idade compreendida entre os 6 meses e os 4 anos, afectando meninos e meninas de igual forma. A frequência dos episódios é variável - desde crises ocasionais a vários episódios diários. Em 23% dos casos encontrou-se uma incidência familiar.

Consistem numa sequência típica de eventos que se inicia de forma reflexa em resposta a um factor desencadeante, como medo, susto, frustração ou dor súbita, podendo levar à apneia (a criança deixa de respirar) e até mesmo perda de consciência. São involuntários, auto-limitados e habitualmente não provocam complicações graves.

A apresentação clínica é variável, estando descritas 3 formas clínicas clássicas: cianótica, pálida e mista. Após um estímulo negativo, a criança começa a chorar. Após a expiração a respiração pára, involuntariamente, com consequente alteração da coloração da pele. O episódio dura, geralmente, de alguns segundos a 1-2 minutos, resolvendo espontaneamente. Em casos extremos, se a hipóxia (diminuição do suprimento de oxigénio) a que o cérebro está sujeito for prolongada, pode ocorrer uma crise convulsiva secundariamente.

A maioria das crianças apresenta apenas um dos tipos de espasmo do choro, mas algumas podem apresentar uma forma mista. As crises cianóticas (ou seja, em que a pele fica com uma coloração azulada) são as mais comuns (90% dos casos) e são precipitadas por sentimentos como frustração, raiva ou medo, levando a que a criança chore violentamente e interrompa a respiração durante a expiração, à qual se segue perda de consciência e hipotonia generalizada (o corpo da criança fica muito mole). São mais comuns em crianças muito enérgicas, activas, coléricas e que gostam frequentemente de contrariar ordens. Nas crises pálidas o estímulo costuma ser traumatismo craniano após queda ou uma dor ou susto súbitos, aos quais se seguem palidez cutânea acentuada e perda de consciência. Habitualmente, não há choro antes do episódio. São mais comuns em crianças passivas, inibidas e facilmente impressionáveis.

Habitualmente, o diagnóstico de espasmo do choro faz-se apenas com base na entrevista clínica e exame médico da criança Quando a história não é típica ou as queixas são muito exuberantes, o médico assistente pode sentir necessidade de esclarecer melhor a situação com exames complementares de diagnóstico.

É grave?
Trata-se de uma situação benigna. Na maioria das vezes, os espasmos do choro desaparecem espontaneamente até ao início da idade escolar.

Podem ser manifestação de epilepsia?
Não. Como foi referido anteriormente, trata-se de uma situação benigna, que não necessita de terapêutica e acaba por desaparecer espontaneamente. A epilepsia é uma doença que tem origem numa descarga eléctrica anómala do córtex cerebral. Contrariamente ao que sucede nos espasmos do choro, nas crises epilépticas geralmente não há factor desencadeante (como frustração, susto, dor ou medo). Além disso, as crises epilépticas podem ocorrer enquanto a criança dorme, ao contrário dos espasmos do choro, que nunca acontecem durante o sono.

Têm cura?
Apesar de serem fonte de grande ansiedade para os pais, que se vêem confrontados com uma situação verdadeiramente angustiante e assustadora, não existe medicação que trate ou previna os episódios.

O que posso fazer para ajudar o meu filho?
Os espasmos do choro assustam os pais e podem ser responsáveis por comportamentos desajustados em pais e cuidadores, que acabam por condicionar perturbações de comportamento nas crianças. Os pais ficam, assim, divididos entre a necessidade de impor regras à criança e o receio de novo episódio.

Ainda que os espasmos do choro sejam involuntários, é importante que os pais percebam que são uma forma de manipulação da criança, já que os pais tendem a satisfazer os seus desejos ou a evitar a frustração que os faz sofrer. Assim, é essencial que os pais aceitem esta situação como benigna, auto-limitada e sem consequências graves, de forma a não favorecerem o aparecimento de perturbações do comportamento no futuro. É também muito importante que os pais ajam em conformidade, ou seja, que tanto o pai como a mãe ou outros cuidadores apliquem as mesmas regras. Evitar a imposição de regras só vai acabar por reforçar este comportamento. Os pais devem ainda tentar actuar antes que a criança esteja em stress. Quando a criança evidenciar sinais precoces de oposição (começa a ficar contrariada, a fazer birra), deve ser colocada em local sossegado (como o quarto), até que se acalme por si mesma, evitando pegar-lhe ao colo ou brincar com ela. Além disso, os pais, sendo modelos de actuação, devem também aprender a gerir os seus próprios sentimentos de raiva, de modo a evitar perdas de controlo.

Quando, além dos espasmos do choro, forem notados outros sinais de sofrimento psíquico na criança (auto ou heteroagressividade, isolamento, irritabilidade...), o médico assistente deve ser consultado.

Maria João Magalhães, com a colaboração de Helena Silva, Pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de São Marcos, Braga